quinta-feira, 17 de julho de 2008

FALANDO DO HORÓSCOPO

FALANDO DO HORÓSCOPO


O horóscopo mostra, em princípio, duas possibilidades:

A primeira é um ser natural, o “Homem Natural”, uma entidade plena, absoluta e integralmente comprometida com o organismo planetário que ele habita, como uma célula no corpo, como uma bactéria integrada a seu hospedeiro. O horóscopo originalmente nos apresenta este Homem, esta entidade natural.
Este “Homem Natural” na verdade é uma entidade imaterial, uma pura expressão energética, uma “emanação da Águia”, como diria Don Juan. Ele é composto de energia caótica e, quando em sua organização energética natural, ou seja, quando esta energia pura começa a se organizar, em sentimentos e intenções.
Estes Sentimentos e Intenções são expressões naturais da energia cósmica fluindo através de nós; correspondem à expressão da vida em si mesma e é a matéria prima da qual se faz a realidade, da qual se compõe a realidade.
O acesso a esta realidade primeira, composta de Sentimentos e Intenções, ocorre através da obtenção do “estado de Graça”, um estado que corresponde a ter consciência da energia fundamental, como se pudéssemos acessar a imprevisibilidade do movimento dos elétrons e saber para onde eles vão, de onde eles vêm. Como se pudéssemos navegar entre as partículas e ondas, no espaço vazio, no espaço silencioso, e dali, observar tudo acontecendo.
O Sentimento, no caso, não deve ser confundido com Emoção, que é uma expressão do Ego e da Psique. Sentimento existe em todos os seres, independente do uso ou não da razão. É uma forma pura de expressão da energia essencial, seja a alegria, seja o medo. É a própria capacidade de sentir em si mesma.
Estamos denominando de Intenção à força natural que move os elétrons, que dirige e movimenta a energia, conduzindo-a para um estado de aglutinação, orientando-a para a forma e dando a ela consistência. A intenção conduz a energia do sentimento para o mundo da forma e das sensações, o mundo do “Tonal”. Utilizando alguns conceitos da física quântica apenas para fazer um paralelo com o universo astrológico, podemos dizer que a intenção determina o colapso da onda de energia transformando-a em partículas, em realidade física.
A intenção é a expressão da consciência. A intenção é o caminho de acesso à própria consciência.
O Horóscopo mostra a arquitetura, a organização energética do homem, onde o sentimento e a energia vital em estado puro se direcionam para este ou aquele módulo, para essa ou aquela formação específica, e mostra também, em uma Segunda etapa, a aglutinação desta energia caótica, onde ela toma forma e se transforma em realidade, em luz, em gesto, em objeto, em personalidade ou qualquer outro tipo de forma que a energia aglutinada possa assumir.
Tudo que existe, tudo que nossos sentidos possam captar e reconhecer – o som, a cor, o gesto – é materialização da energia vital e caótica da qual se compõe o universo. A física quântica prova e comprova isto.
Quando unimos – através da intenção – a energia essencial, vital e caótica – que nomeamos aqui como “sentimento” – com a energia aglutinada e formatada que chamamos realidade material, construímos e permeamos o mundo, atravessamos os espaços vazios entre as formas e os gestos e expressamos e experimentamos o que chamamos Vida.
A compreensão da “intenção” é a constatação por parte daquilo que em nós podemos chamar de “o observador”, é o caminho seguido por Ele ou através Dele. E é na observação que a energia pura se colapsa e cria a realidade.
´É através da observação que nos tornamos no que somos ou no que pensamos ser.

A segunda coisa que o horóscopo mostra, é onde este Homem Natural é mais frágil, onde ele pode ser manipulado e receber programas e condicionamentos que distorçam sua natureza, quais seus pontos fracos, por onde uma realidade externa pode ser implantada em sua psique. Mas o horóscopo não mostra que isto vai acontecer, apenas nos sugere por onde pode acontecer, ou que simplesmente pode acontecer.
A primeira coisa e a expressão e o movimento das energias, a segunda, é a psicologia, a mente e seu fluxo e refluxo.

Somos apegados a um modelo de realidade que, de certa forma, nos foi imposto, nascemos “dentro” dele, é basicamente a única experiência que temos de algo eu podemos chamar de Realidade, Don Juan (Castañeda) dizia que o homem é um macaco agarrado às sementes dentro de uma cabaça. Ele sabe que para ser livre basta abrir a mão e largar as sementes, mas não faz isto, não consegue fazer. As sementes são o Sonho da Realidade, o sonho coletivo que recebe essa denominação, são nossas expectativas sociais que nos aprisionam, são a imagem que construímos de nós mesmos para sermos aceitos e coerentes com essa realidade. As sementes correspondem à mente, ao ego.
A visão que temos do horóscopo tende a ser a visão de seres agarrados às sementes dentro da cabaça, nos recusamos a largar as sementes, nos recusamos a abrir mão de um modo de ver as coisas e de nossa mania de alimentar a auto-imagem que nos foi proporcionada por nossos pais e pela sociedade. Esta é a Segunda visão do horóscopo, aquela que mostra nossas fragilidades e mostra nosso comprometimento com o que esperam da gente.
Neste caso, o mapa astrológico passa a ser um excelente referencial de expectativas, e expectativa é ilusão. Cada configuração, cada aspecto vai representar um tipo de expectativa, algum espaço a ser preenchido, algum tempo a ser vivido, mas sempre dentro de um padrão que não é necessariamente o nosso. O mapa passa a ser um mapa da expectativa que o mundo tem de nós, e nossas expectativas passam a ser reações ao que o mundo externo espera de nós, num tipo de ciclo, o “samsara”, e assim o horóscopo é visto, aceito e interpretado.
De alguma forma, existe algo como uma “expectativa coletiva”, que cria a realidade como nos a concebemos, o “mitote” dos xamans, o “maya” dos orientais, e esta expectativa é maior e mais poderosa que nossa capacidade pessoal de idealizar e criar nosso próprio sonho, nossa própria realidade, e de alguma maneira nos constrange ou nos corrompe, nos seduz e nos obriga a nos submetermos a ela, a submetermos nossas qualidades pessoais e nossos talentos a ela.
Estamos nos perguntando neste momento: “... mas o que vamos olhar no horóscopo então? Este cara é maluco! A vida é o que é, e temos que usar a astrologia para melhorá-la, o que já é uma grande coisa...”
Isto está certo, é assim mesmo que fazemos, estamos agarrados demais às sementes dentro da cabaça para imaginarmos que poderia ser diferente. Coisa de sonhador que acredita que podemos sair deste sonho...
Mas existem pequenas coisas que podemos fazer. Tentativas frágeis, delicadas, suaves diante da imponência do sonho que nos consome e absorve tanto, diante da nossa necessidade de preservar nossa imagem construída, nossa crença em um mundo e em um tipo de mundo que “aprendemos” a confiar e amar.
A primeira coisa a fazer, é entender o mapa dentro do conceito de Energia Pura, energia vital, energia do Caos, e a partir disto, fazer uma fusão entre este conceito e os conceitos de forma, de materialização desta energia, pois que tudo é energia, apenas olhamos de um lado físico, formatado, ou de um lado energético sem forma.
Onda e partícula.
Precisamos considerar que o Ser está submetido a um contexto maior que ele, o ambiente planetário e as condições sociais ao nosso redor são muito poderosas, e qualquer análise que fizermos de um indivíduo, através do horóscopo ou outro instrumento, tem que levar em consideração esta pressão do ambiente. A analise pode ser feita não a partir dos potenciais do indivíduo, simplesmente, mas da correlação entre suas qualidades naturais e a possibilidade destas qualidades se manifestarem em um contexto que, pode ser hostil a algumas qualidades e bastante favorável para outras.
Por exemplo, se analisarmos o potencial de relacionamento de alguém, através da observação da sua casa VII, o descendente, e todos os planetas envolvidos nessa questão, podemos considerar que toda avaliação dos potenciais de relação desta pessoa tem que levar em conta o mundo físico no qual ela vive, a realidade social, o que as outras pessoas esperam dela em termos de relacionamento. Não é possível analisar estes potenciais sem levar em conta toda a pressão psicológica e todos os condicionamentos aos quais esta pessoa é submetida desde a infância.


A questão amorosa do indivíduo, ou melhor, tudo que envolve os relacionamentos e associações da pessoa, representados pelo descendente e suas configurações, dependem dos critérios e conceitos coletivos de amor e relacionamento, depende das leis e regras estabelecidas pela grande ilusão da realidade e reconhecidas pela sociedade como o que é certo ou não é certo.
Depende de tudo menos do Amor propriamente dito.
Mas dentro de nós, muitas vezes, aparece um ser selvagem, surge a necessidade de viver o amor e a relação em outra dimensão, talvez mais instintiva, talvez mais biológica, menos formal, e ai, ai cai sobre nossas cabeças a cobrança, a culpa, o sentimento de estarmos transgredindo as regras.
Que regras são estas? Algumas são determinadas pelo bom senso, outras pelo respeito aos limites e contingências biológicas do ser humano, mas estas, nosso instinto, se não estiver corrompido e comprometido, não pode transgredir, pois não há força que nos afaste da vida em si mesma, a não ser a loucura e o excesso de pressão. Essa possibilidade de transgressão biológica e agressão à própria vida não está visível no horóscopo, não é previsível.
Outras regras, aquelas estabelecidas pela necessidade da ilusão social se auto-alimentar e se preservar, aquelas que têm conotação meramente moral e apenas servem para conservar a forma e o padrão sócio/cultural aceito pelas leis da cultura (que é um grande sonho coletivo, como tem sido colocado), muitas vezes distorcem ou bloqueiam a livre expressão dos potenciais do horóscopo, e a partir disso, dizermos que Vênus ou o planeta que está presente na casa VII representam um potencial de relacionamentos A ou B pode ser um grande equivoco, tanto de quem está interpretando, quanto de quem está ouvindo.
Se nós pensarmos no relacionamento – ainda dentro deste exemplo – em um plano natural e instintivo, estaremos abordando questões que talvez nunca possam ser devidamente expressas pelos bloqueios e impedimentos determinados pelas Leis morais do grande Sonho. E se nós – interpretes – por estarmos também submersos e comprometidos com o Sonho, fizermos uma leitura dentro de nossa percepção e decodificação “autorizada” dos símbolos, sempre dentro da Lei que nos foi imposta e por nós assimilada, certamente nossa interpretação vai “bater”, ficaremos orgulhosos de sermos “bons astrólogos” e vamos endossar os padrões sociais de relacionamento permitidos e estabelecidos pelo Sonho.
E nada vai mudar, e nada vai acontecer simplesmente.
Bem, talvez isto seja o certo e eu esteja especulando sobre uma utopia, uma impossibilidade não é?
Mas vou continuar nesta busca, pois algo dentro de mim está insatisfeito e pede que eu continue esta escavação. Pressinto, sinto como que certo brilho, uma chave, uma passagem que não consigo ainda atingir, mas que está lá me esperando, está presente, e se eu insistir e continuar, em algum momento a porta se abre, e ai posso escolher entrar ou ficar, mergulhar ou ficar. A escolha ainda é minha. A escolha é de cada um.

Os arqueólogos e outros exploradores de mistérios, diante de uma caverna, diante de seu sentimento de busca e questionamento, sentiam que havia portas, recantos, mistérios para ser descoberto atrás de cada sombra, dentro de cada obscuro espaço. É o que sinto neste momento. Mas também tenho a sensação de que, se continuar, tudo que eu sempre soube, ou achei que sabia, perderá o sentido, e que talvez, se descobrir novas verdades, novas versões para a verdade, se conseguir por uma fração de segundo ficar independente do sonho, saltar do aquário que chamamos de realidade e onde estou submerso, ficarei só.
E este é nosso maior medo. Agarramos-nos às informações assimiladas, às regras que nos deixam seguros e coerentes, aos comportamentos, aos estilos, às técnicas que permitem uma aceitação de nosso trabalho, de nossa vida pelas pessoas, e sabemos que, se nos atrevermos a questionar e contestar tudo isto que praticamos, o preço pode ser o isolamento, o deboche, a ironia dos que permanecem. Por isso é mais fácil, é mais cômodo não questionar, não colocar em dúvida nosso conhecimento, nosso trabalho. Por isso é tão incomodo questionar a Astrologia e a pratica da astrologia que tem sido tão “eficiente” durante estes séculos, ou décadas. Eficiente para manter o mundo como ele é apenas isto.
Não estamos tolamente pretendendo mudar o mundo, ou simplesmente quebrar as regras, mas temos a lucidez de perceber que tem alguma coisa que não encaixa nisto tudo, alguma coisa que, apesar de toda informação maravilhosa que a Astrologia e a análise do horóscopo proporcionam, continua igual, sempre a mesma, como um som contínuo, tão perene que já não o ouvimos mais. Tantos anos de trabalho e na verdade, nada mudou, pelo menos nada que não mudaria naturalmente, dentro dos limites permitidos a nós, seres domesticados. Porque o enorme elefante não rompe aquela frágil corrente que o prende pelo tornozelo? Porque não arranca a frágil estaca onde essa corrente está presa? Simplesmente porque a corrente foi colocada quando ele era pequeno e frágil, e ele aprendeu a acreditar que sua algema era mais forte que ele, e jamais ousaria tentar rompe-la em sua vida. A crença é mais forte que qualquer corrente.
Quem se olhar um pouco, com algum distanciamento crítico, certamente sentirá essa corrente que nos aprisiona, reconhecerá os condicionamentos que nos limitam. Todos estão fora de si. E o que estou dizendo não é uma insatisfação pessoal apenas, não é uma mera visão egóica do mundo sustentada por meus próprios problemas, que estes eu administro. É uma percepção maior, como uma voz, como um ruído incomodo, como o sentimento de que estamos sendo sonhados por um imenso sonhador, e que nos esquecemos a muito tempo de quem realmente somos e podemos ser, e tudo que fazemos é com a finalidade de endossar e reforçar este esquecimento, inclusive a Astrologia.
A tendência normal em nossa cultura é negar, questionar ou até mesmo tratar com sarcasmo tudo aquilo que nos incomoda. Nos inclinamos com freqüência a assumir este tipo de procedimento como atitude pessoal ou estilo de vida, mas podemos percebê-lo também como reação coletiva quando alguma nova informação, um novo questionamento vem mexer com os padrões de ilusão aos quais estamos acostumados e condicionados. A gente para de ler, a gente para de pensar, a gente diz que é uma babaquice qualquer coisa que ameace nos conduzir a um confronto com nossos próprios limites, que chegue perto da tênue membrana que divide o plano do sonho do plano da realidade. Negamos e ironizamos tudo que nos possa conduzir ao ponto de ruptura porque precisamos de defesas contra o desconhecido, e precisamos de estratégias para sentir alguma segurança dentro de uma realidade sonhada – nem sempre sonhada por nós mesmos – e estas estratégias, como a ironia, deboche e o sarcasmo, por exemplo, invalidam e ridicularizam todas alternativas que não sejam aquelas às quais estamos prévia e passivamente condicionados.
Existem práticas, procedimentos, atitudes mágicas e rituais que permitem que a gente vá despertando e se recordando de nosso estado Natural, acessando a consciência e lembrando que somos anjos que se esqueceram de sua condição divina e se comprometeram e se corromperam com o plano da forma.
A consciência é o elemento que estabelece a realidade. A realidade é uma criação da própria consciência. A realidade é a consciência.
Estas indagações todas talvez não levem a nada, talvez levem a tudo, não importa. Fazendo se faz, caminhando se faz o caminho, e isto importa.

Valdenir Benedetti

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