quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

COISAS DE CASA VII

COISAS DE CASA VII

Tempo e espaço, duas linhas que se cruzam em nossa mente e em nossas vidas, marcam o centro, o ponto onde estamos existindo. Talvez jamais venhamos a saber o que são o tempo e o espaço, mas temos a percepção constante deles, sentimos seu fluxo a cada movimento, em cada pensamento.
As relações se estabelecem e são percebidas na dimensão chamada Espaço, onde a energia minha e tua fluem, aonde eu vou para você e você vem para mim, onde nossos olhares se cruzam e criam outra realidade, geram o sentimento, produzem uma nova onda de energia que irá se espalhar através do universo. Tudo isso num instante único e definitivo, tudo acontecendo submerso na dimensão do tempo, todas as sensações e movimentos gerando ondas de tempo. Sementes do que há de vir.
Quando eu te conheço e em você me reconheço, quando eu vejo o espelho de mim mesmo em teu olhar e você vê em mim tudo que está guardado em teu coração, estamos no cruzamento dessas linhas, estamos no vértice do tempo/espaço, estamos criando uma nova onda de realidade. Haja sentimento ou não, tanto faz, pois nesse momento em que nossos olhares se encontram somos criadores, nossa força unida produz vida, cria realidade e nos tornamos canais da expressão divina. Essa é a força do amor, a expressão da natureza que se chama amor e que faz a gente se encontrar e se tornar seu canal, seu veículo.
Na circunferência do horóscopo, esse gráfico que pretende representar o fluir da força universal através de nós, e que pode sugerir no plano de nossa psique, a expressão do amor e de toda força da natureza, encontramos esse cruzamento de linhas, uma horizontal representando o espaço, e outra vertical representando o tempo, linhas básicas e fundamentais para estabelecermos as relações dinâmicas entre essas dimensões e tentarmos entender como nos localizamos nelas ou como elas acontecem em nosso viver.
As relações se estabelecem horizontalmente, exatamente como ocorre na superfície do planeta, a energia flui de mim para você e de você para mim, Eu e Tu se encontrando submersos no oceano da existência, e entre nós dois, o tempo misterioso dando significado e substância ao nosso encontro. Eu e Tu num fluir e refluir constante, eterno, absoluto. Mesmo que nossa consciência não esteja preparada para captar e absorver a totalidade de significados e expressões possíveis nesse fluir vital, ele acontece. O eixo I – VII, números atribuídos para facilitar a representação gráfica desse movimento, é o eixo que representa o lugar onde ocorre física e emocionalmente nossa relação.
O ponto I, o Ascendente, representa o projeto de minha vida, representa meu começar, o constante iniciar que ocorre entre a inspiração e a expiração, no espaço entre uma batida e outra do coração, exatamente como a pausa infinita que acontece com o mergulhador entre seu movimento ascendente e a longa queda, o instante parado no ar antes de mergulhar, antes de começar de novo o novo movimento da vida. Todo esse fluxo do existir se dirige em direção a você, ao “outro”, sua direção natural.
Antes que meu projeto de vida te encontre, eu tenho que considerar que meu passado, minha historia de vida estará presente em cada ato executado, em cada gesto. Tudo que eu vivi está contido em mim. Coisas esquecidas, experiências bem resolvidas, mágoas, meu conteúdo é minha história, a substância com a qual sou construído, é a base para que eu execute meu projeto e continue a viver essa historia.
Até o final, até cada novo começo, o tempo se faz presente, se torna fato, matéria, energia, conteúdo de minha psique, força mental e força de agir. Irei até você, até o outro, minha energia fluirá carregando minha história pessoal, muitas vezes fonte de luz e poder, outras vezes sombras que invadem e obscurecem o movimento.


Na dança de nosso encontro, o outro extremo do eixo do tempo também estará presente, minha expressão social, minha imagem, meu status, aquilo que eu tenho para ser admirado ou negado. Você me verá através dessa imagem, ela estará tão presente em nosso encontro quanto a historia que cada um de nós já experimenta desde o nascimento. Mais uma vez o tempo se faz presente. O passado se incorpora ao meu movimento em direção à vida, em direção ao outro, a você, e o futuro se evidencia através da minha imagem, daquilo que você pode perceber em mim como um poder, como um potencial de executar meu papel no mundo, de ter uma performance, de ser alguém, de dar significado a mim mesmo e ao nosso encontro.
Na construção de minha personalidade, que é o veículo no qual irei te encontrar no outro extremo do eixo do espaço, os ingredientes principais são minha historia de vida, o ponto IV do gráfico do horóscopo, e a expectativa que a sociedade, o mundo exterior tem de mim, e que eu tenho dele, o ponto X do gráfico. Meu ascendente é completado por esses dois elementos, dois desafios, duas tensões, duas quadraturas que me mantém coeso e inteiro. Esses dois canais de ingresso na dimensão temporal, passado e futuro, historia e possibilidade de crescimento, campo IV e campo X, estão e estarão sempre entre nós dois, no caminho entre meu ascendente e meu descendente, que simboliza a dinâmica do encontro com o mundo e com o “outro”. Não existe outro caminho para que eu possa chegar até você, me projetar em você, me encontrar em você, sem atravessar essas duas extremidades do eixo do tempo, sem enfrentar minha história e meu papel no mundo, e isso é perfeitamente natural, faz parte da Lei, faz parte do nosso encontro.
Vivemos, no entanto em um mundo complexo, com pouco espaço para exercer plenamente nossos dons, e espremidos entre desejos, necessidades, medos, controle e insegurança, acabamos por criar elementos inadequados à nossa plenitude, ao movimento sereno e pleno em direção à vida, em direção ao outro, e tudo isso que nos é impingido por uma realidade muitas vezes hostil, como uma cascata que flui de geração em geração, de pai para filho, água contaminada por dores e medos de outros tempos – a “má-água”. Com todo esse conteúdo que carregamos, somos muitas vezes conduzidos a expressar nosso projeto de vida de uma forma errada, inadequada, sombria.
A inadequação acontece quando fixamos nossa atenção no passado ou no futuro apenas, no ponto IV ou no ponto X do eixo do tempo. Essas dimensões deveriam ser valores de conteúdo na expressão de nosso destino, de nosso projeto, mas por força de circunstancias limitadoras e minimalizadoras da formação de nossa personalidade, ou por imposição da cultura e da moral de nosso tempo, essas questões acabam se tornando prevalentes, prioridades no caminho até você, e nesse momento, eu deixo de ser eu para ser meu “meio do céu” ou meu “fundo do céu", e é isso que você vai receber de mim, apenas minha relação com o tempo e não minha essência e minha totalidade.
Em nosso movimento em direção ao outro, pode acontecer de eu me dar muita importância, e você se conectar em mim em função de meu ilusório “status”. Nesse caso, essa será a base de nossa relação, e por isso vou me afastando de mim mesmo e me conectando nessa auto importância, ou nas expectativas sociais a meu respeito. Deixo de ser Eu para ser o que esperam que eu seja. Me afasto de meu Ascendente para me tornar o Meio do Céu. O sucesso, o reconhecimento social passam a ser a referencias e o alicerce de nossa relação.Você para de se relacionar comigo e se vincula a minha imagem social.
Em nosso encontro nessa vida, talvez eu seja uma pessoa que carrega o passado consigo de uma forma muito intensa. Só o que aconteceu interessa. Só o valor de minha raça, meu sobrenome, meu berço interessam. Mais uma vez não serei eu a me relacionar com você. Será sim aquilo que eu quero acreditar que corresponde a minha história, com minha família a tiracolo, meu passado impregnando cada gesto meu, tudo que já passou menos o que eu sou agora. Só posso entender minha historia até onde vão os limites de minha capacidade de compreensão, por isso, muito do que eu acredito que eu sou a partir de minha relação com o passado pode ser uma fantasia que eu faço de mim mesmo e por isso, posso estar me relacionando com você por meio de um veículo ilusório, uma crença que me impuseram e que eu aceitei, e isso pode transformar nosso contato em algo irreal, um teatro, uma farsa, um vínculo baseado em nada.
Ambos os movimentos, os caminhos que eu sigo até você, o caminho da casa IV e o da casa X, quando rígidos e absolutos me afastam de mim mesmo. Quem se relaciona com você é uma parte de mim e nunca minha totalidade. E como ao segui-los eu deixo de ser eu mesmo, deixo de estar conectado a meu projeto de vida e minha própria essência, pode acontecer dos aspectos obscuros de minha personalidade, aquilo que não vivi por estar iludido, ou as distorções e patologias sociais que eu assimilo e não consigo evitar, se tornarem dominantes em nossa relação, em minha relação com a própria vida. A sombra do passado e a névoa do futuro me possuem e contaminam nosso olhar, distorcem no espelho o que eu vejo de mim em você e do que você vê de si própria em mim.
Esses caminhos que escolho também me afastam de você. Você vê em mim o que permito que você veja. Você vê o que eu não sou, não fui e nem serei, e eu vejo em você somente aquilo que meu olhar ansioso e obscurecido permite ver.
Quando em nossa relação surge o problema de eu perder a identidade e me afastar de minha própria essência, meu instinto de preservação me obriga a reagir a isso, e dai surge a mágoa, a aflição, o medo, e tudo isso eu atribuo a você. Mas lá, do extremo oposto de meu ascendente, o mesmo medo, a mesma magoa estão vindo. Você também está perdendo a identidade. Não se pode fugir do espelho.
As referencias temporais de nossa existência, nosso passado e nosso futuro, desafios e recursos que deveriam ser estímulos ao nosso crescimento, transformamos em infelicidade, em amargura, em insatisfação. E estamos enganados. Estamos nos enganando apenas.
Nada disso precisa acontecer. A compreensão de que estamos sendo vítimas de um erro de focalização, de uma distorção de nossa visão, pode nos ajudar e não sermos vítimas de nossas próprias sombras e apegos.
Existe uma luz maior, e nós estamos envolvidos por essa luz. Ela é muito mais poderosa que qualquer sombra. A luz do amor que fez acontecer o encontro em nossas vidas, que fez seguirmos em direção um do outro. A luz do amor que nos aproximou para aprendermos um com o outro e a partir dai, seguirmos nossos caminhos. Isso sempre pode acontecer entre os seres humanos. Todas as vezes que o eixo do espaço é amorosamente ativado, somos inundados pela luz.
Estamos aprendendo a entender o que da historia de vida de cada um encontra ressonância no outro. O que da expectativa social de cada um existe no outro. Nossas referencias internas estão ativadas, e elas, quando não são conscientizadas, se tornam perversas para nós mesmos, nos enfraquecem e machucam, talvez por não terem sido vividas direito, talvez por não terem sido resolvidas, talvez por terem sido implantadas em tempos de inocência. Mas as referencias interiores de nossa vida estão ai para serem usadas e trabalhadas. E se o destino nos colocou juntos, é porque podemos resolver nossa historia juntos.
Precisamos questionar o passado, desmistificar o futuro, enfrentar os apegos e as expectativas que se ocultam atrás de nossa falta de consciência e de nosso medo da solidão.
Podemos iluminar nossas sombras. Podemos resistir às ilusões e falsas promessas do mundo. Podemos flutuar, voar e exercer um amor que nunca foi visto antes, pois a luz que fez com que nos encontrássemos no centro dos eixos do espaço e do tempo tinha um plano, um projeto divino. Nada é em vão, nada é por acaso.
Creio que merecemos nos dar uma chance. Estou certo de que merecemos isso. Sempre merecemos uma chance, mesmo porque não escolhemos sofrer. Apenas permitimos que o peso do passado, o peso do futuro, a cobrança da vida, os desafios a serem enfrentados se transformem em sofrimento.
Podemos nos dar uma chance de entender nosso projeto, de entender nosso próprio movimento, nosso íntimo. Tivemos nesse fluir de energia uma boa escola, um grande recurso para entender o eixo do tempo e as sombras que daí derivaram em nossas vidas. Temos agora que trabalhar isso. Cada um a seu modo, cada um criando seu próprio território, cada um vivendo a dor de exorcizar seus fantasmas.
Estamos limpando o espelho, estamos limpando os olhos e o olhar, e poderemos novamente olhar um no espelho que é o outro, olhar nos olhos e passar apenas luz e ternura, pois nós enfrentamos a sombra, assustamos o medo, conquistamos nosso espaço e temos muita força juntos. Temos o poder de enfrentar o sonho do planeta e sobreviver e ficarmos alegres com isso tudo.
Podemos sempre olhar nos olhos da pessoa amada e rir disso tudo.



Valdenir Benedetti

sábado, 3 de janeiro de 2009

AS REVELAÇÕES DE LILITH





A Lilith (ou Lua Negra) - ponto astronômico correspondente ao grau do apogeu (ponto orbital mais afastado em relação à Terra) da órbita lunar projetado na eclíptica zodiacal - vem despertando uma crescente curiosidade entre os profissionais e estudantes da astrologia. O interesse por esse símbolo e suas eventuais interpretações astrológicas tem relação com os movimentos contemporâneos de libertação feminina, bem como com as propostas de uma maior elaboração psicológica da interação masculino-feminino no indivíduo, com o processo terapêutico. Os estudos que têm sido realizados por diversos astrólogos mostram a pertinência e a coerência entre o ponto onde a Lilith se localiza no mapa natal e a manifestação cada vez mais evidente nas pessoas dos significados desse símbolo.

O modelo de feminino permitido ao ser humano pelo padrão ético judaico-cristão baseia-se no mito de Eva, a mulher feita a partir de um fragmento do "primeiro ego": Adão. Vários textos históricos (entre eles, os relatos da Torah assírio-babilônica e hebraica, a versão jeovística para o Gênesis, o comentário bíblico do Beresit-Rabba e as versões aramaica e hebraica do Alfabeto de Ben Sirá (Séc. VI ou VII)), no entanto, citam com variantes a criação de Lilith, a primeira mulher, feita em igualdade de condições com o primeiro homem e expulsa do Paraíso por tentar fazer valer essa identidade.

Adão e Eva são apenas interpretações simbólicas de leis e princípios arquetípicos, correspondendo Adão ao princípio masculino essencial (yang) e Eva à essência do feminino (yin). Além disso, sob o ponto de vista dos alquimistas, é através da união das polaridades (Sol e Lua, yang-yin) que se obtém o "ouro dos filósofos", ou seja, conquista-se a plenitude, o estado divino no homem. A partir desses pontos de vista, pode-se concluir que talvez seja bastante difícil elaborar nossa plenitude ou individuação baseados em princípios simbólicos aparentemente distorcidos, isto é, o masculino (Adão) e o feminino (Eva) manifestando-se em níveis diferenciados.

Acreditamos que essas distorções na interpretação dos mitos satisfaçam algumas conveniências estruturais de nossa sociedade, particularmente a discutível superioridade do homem sobre a mulher. Mas observado sob um prisma astrológico, esse desnivelamento não existe e sua verdadeira função intrínseca seria manter o ser humano afastado de sua outra metade, seu lado yin (ou inconsciente).

Assim, divididos em duas naturezas que não podem harmonizar-se - pois uma delas está simbolicamente em condição de inferioridade - nos tornamos seres frágeis, parciais, facilmente manipuláveis por qualquer sistema de valores. Estamos muito distantes de nossa natureza divina, de provarmos o fruto proibido da polaridade (traduzida por bem-mal) que nos daria acesso ao princípio simbólico de termos sido feitos à Sua imagem e semelhança.

É evidente que uma "mulher" que representasse a possível igualdade de condições com a natureza masculina teria de ser omitida, ou melhor, transformada no símbolo do mal, do pecado, da perdição (mãe de demônios, súcubos, da tentação, do pecado). Mas não é possível, por mais que se pretenda, enganar os mecanismos restauradores da harmonia divina, os quais a própria mãe natureza se encarrega de manter ativos. É a verdadeira evolução das espécies, promovida pela própria natureza em todos os planos da existência, inclusive no espiritual.

Os conteúdos psíquicos simbolizados pela Lilith são muitas vezes interpretados como a raiz da libido. Outras vezes são percebidos como geradores de poderes paranormais, inclinação para a bruxaria, mediunidade, etc. De qualquer forma, tudo o que se diga sobre a Lilith pode ser tão falso quanto verdadeiro, pois não passa de conjeturas - mesmo que baseadas em observação empírica - sobre uma potencialidade simbólica e ainda inconsciente.

Partindo de diversos estudos realizados - particularmente por astrólogos franceses e, no Brasil, pelo professor Zeferino Pina Costa, astrólogo conhecido pela seriedade e profundidade de suas pesquisas - além da contribuição de observações, palpites, opiniões e intuições de diversos astrólogos e estudantes que se interessam pelo tema, tentaremos compor um painel inicial das possibilidades interpretativas desse símbolo no mapa astrológico.

As observações que se fizerem a respeito da Lilith no próprio horóscopo devem necessariamente levar em consideração todas as outras configurações planetárias. É importante não tratar com leviandade elementos simbólicos de conteúdos psíquicos profundos, procurando, dentro do possível, traduzi-los e compreendê-los dentro da dinâmica existencial representada pela totalidade do mapa natal.

De acordo com as diversas fontes citadas, a Lilith poderia corresponder na carta astrológica aos seguintes elementos:

1) Ponto de frustração - A Casa ou signo onde ela se encontra corresponderia à área de experiência (Casa) ou qualidade arquetípica (signo) em relação às quais o indivíduo viveria com um sentimento inexplicável e constante de expectativa e insatisfação, mesmo que a experiência simbolizada por aquela Casa ou signo esteja sendo realizada satisfatoriamente.

2) Fator de inversão - As experiências representadas pelo signo ou Casa poderiam acontecer de maneira inversa ao esperado, reforçando a frustração e a insatisfação quanto àquela experiência.

3) Canal de contato com outras dimensões - Diferentemente de Netuno, que representa o canal de acesso ao inconsciente coletivo, a Lilith representaria um ponto de acesso ao "inconsciente do inconsciente coletivo". Pode simbolizar também qualidades mediúnicas poderosas.

4) Mecanismo de evasão ou recepção de energia vital - Pela manifestação da Lilith através da configuração astrológica da qual participa (Casa, signo, aspectos, etc.) o indivíduo pode liberar sem intenção grande quantidade de energia vital, esvaindo-se, muitas vezes, completamente. Da mesma forma, ele pode absorver essa mesma vitalidade de outras pessoas.

5) Ponto de acumulação das energias não utilizadas - A experiência existencial e os princípios astrológicos dizem que a natureza sempre oferece oportunidades e ferramentas para que o indivíduo se realize e cumpra seu projeto. Quando ele não aproveita essas oportunidades por qualquer motivo, a energia disponível e não usada se transforma em uma espécie de lastro, o qual se incorpora ao sujeito, incomodando e atrasando sua realização. É mais um fator frustrante, é tudo aquilo que deixamos de fazer e que deveríamos ter feito.

6) Conteúdos infantis não elaborados - A Lua representa no mapa natal os conteúdos primários instintivos, inclusive a experiência existencial da infância. A Lua Negra representaria as experiências infantis não vividas, possibilitando manifestações e reações bastante infantis na área onde ela se encontra - geralmente de forma compulsiva e exagerada.

7) Ponto de carisma - As configurações das quais a Lilith participa no mapa são muitas vezes caracterizadas por um forte magnetismo ou carisma, especialmente quando o indivíduo atua harmonicamente nas questões envolvidas. Talvez esse fenômeno esteja relacionado com um tipo de acesso à libido.

Existem inúmeras outras conjeturas relativas ao papel astrológico da Lilith, mas as citadas anteriormente são as mais facilmente observáveis no cotidiano de cada um de nós. São meros pontos de partida para um estudo mais aprofundado, para novas descobertas. A questão está aberta a quem estiver disposto a encará-la.

Referências ao modelo cármico, também atribuídas à Lilith por alguns estudiosos, exigiriam um trabalho mais extenso e especializado, além de serem pouco funcionais, estacionando na maioria das vezes no campo da especulação metafísica.


Damos a seguir algumas sugestões de interpretação desse símbolo em termos de signo e casa (a posição por casa é, em geral, mais facilmente observável).

Áries ou na Casa I - Pessoa em geral brilhante e carismática. Comportamento excêntrico, sem grande compromisso com regras ou padrões morais e sociais. Necessidade compulsiva de conquistar. Reação infantil saliente diante de desejos não realizados. Sentimento freqüente de insatisfação consigo mesmo, com a própria vida, o que pode levar o indivíduo a lutar muito para superar essa sensação e, geralmente, a conquistar posições relevantes em seu grupo social. Tende a reagir agressiva ou obsessivamente diante da eventual necessidade de assumir papéis paternos.

Touro ou na Casa II - As questões de valor são tratadas com relativa obsessão. Independentemente de estar em boa situação financeira, por exemplo, o indivíduo age como se precisasse de mais, muito mais. Está tão insatisfeito com o que possui, que muitas vezes não percebe seus próprios talentos ou qualidades notáveis. Quer o que não tem e tem o que não quer. Acumula coisas em excesso e se desfaz delas compulsivamente, renegando-as, de certa forma.

Gêmeos ou na Casa III - Avidez insaciável por conhecimento e informação (pode, por outro lado, rejeitar as informações, não lendo jornais, por exemplo). Eloqüência e agilidade mental. Tendência a falar sobre coisas acerca das quais preferiria ter-se calado, a iniciar cursos que não pretende concluir e a adquirir livros que não pretende ler.

Câncer ou na Casa IV - Tendência a viver insatisfeito com a família, com a história pessoal, a educação e a formação que recebeu. É geralmente rigoroso e exigente no processo de formação de um lar, mas acaba concretizando algo que não corresponde às suas expectativas. Muitas vezes vive de casa em casa, de convivência em convivência, tentando realizar algum ideal oculto de vida familiar. Inclina-se a atribuir muitas de suas frustrações e derrotas circunstanciais aos seus pais ou familiares. Vida interior bastante intensa, com relativa facilidade de acesso à sua realidade mais profunda. Devoção apaixonada pelas crianças, acompanhada de impaciência e dificuldade em aceitá-las como realmente são.

Leão ou na Casa V - Pode manifestar-se sob forma de dramaticidade ou necessidade compulsiva de impor sua vontade sobre os demais. Pode também corresponder a uma grande dificuldade em sentir-se identificado com o que realmente é. Notável criatividade física e mental, acompanhada por um sentimento de insatisfação, o que faz com que o indivíduo se empenhe mais e mais em atividades criativas (ou em fazer filhos, simplesmente). Possibilidade de bloqueios nos mecanismos de prazer, desencadeando uma busca exaustiva ou então uma fuga de qualquer situação representativa da sensação de prazer.

Virgem ou na Casa VI - A questão atingida é o trabalho e o método. Insatisfação com sua atividade cotidiana, mesmo quando essa lhe for adequada. Comportamento evasivo ou infantil no ambiente de trabalho. Geralmente muito preocupado com a saúde, procurando todo tipo de terapia ou tratamento de que ouve falar, mesmo sabendo que não precisa (- é só precaução - afirma). Rigor lógico e formal em suas atividades. É comum não gostar daquilo que faz e não fazer aquilo que gosta.

Libra ou na Casa VII - É possível uma tendência a projetar suas frustrações e insatisfações nos associados em geral. Em uma relação afetiva, por exemplo, pode acontecer de, cada vez que o companheiro exibir sua satisfação e bem-estar, o indivíduo dar um jeito de bloquear e frustrar a alegria do outro. Pode desejar alguém inatingível, mas, se esse alguém tornar-se possível, descobrirá que não era bem isso que desejava. São pessoas que exigem muita paciência e compreensão de quem convive com elas. São suscetíveis, magoam-se facilmente e fazem questão de demonstrá-lo. Também podem ser infantis no seu convívio. Possuem fascínio pelo lado oculto das coisas, o que pode conduzi-las ao estudo das ciências herméticas ou a relacionamentos com místicos, mágicos, gurus e até mesmo charlatães.

Escorpião ou na Casa VIII - Confere uma atração excepcional pelo ocultismo, particularmente pela magia, xamanismo, feitiçaria, enfim, pelas práticas, que se relacionam com mecanismos de poder ou de acesso a outros planos da existência. A pessoa tem uma razoável disponibilidade de poderes curativos e regeneradores. Insatisfação com a condição material em que vive, com inclinação a tornar-se financeiramente dependente do companheiro. A necessidade de algum tipo de poder pode ser obsessiva e causar um comportamento tirânico ou até mesmo cruel com relação ao parceiro. Provável fascínio ou temor pela idéia da morte, física ou simbólica, o que pode levá-la a procurar conhecê-la pelo estudo da medicina ou do espiritismo.

Sagitário ou na Casa IX - As eventuais dificuldades sugeridas pela presença da Lilith nessa área referem-se principalmente às viagens ao Exterior e aos estudos superiores, sendo até mesmo possível que o indivíduo veja frustradas suas expectativas de fazer uma grande viagem ou concluir um curso universitário. Mas o conhecimento obtido por caminhos informais é freqüente e as viagens incomuns (astrais, por efeito de drogas, etc.) podem compensar seu ideal de expansão. Existe uma forte inclinação para a busca filosófica sem fim. Por outro lado, essa posição da Lilith favorece o acesso a um significativo conhecimento das misteriosas leis que regem a vida, a natureza.

Capricórnio ou na Casa X - Se, por um lado, pode haver uma expectativa frustrada de prestígio e status social, por outro, o indivíduo tende a empenhar-se com o maior afinco para realizar esse tipo de ideal. É comum essa posição da Lilith determinar uma disposição para sustentar uma imagem muito elaborada para o mundo e outra completamente diferente na intimidade. Uma grande quantidade de energia é investida na manutenção dessas duas personalidades. Essas pessoas tendem a ser pais ou mães possessivos e controladores, mesmo que ajam com delicadeza e muito boas intenções. Não permitem intromissão em suas relações íntimas ou familiares (um mundo secreto) - em alguns casos por se envergonharem de seu passado ou de seu presente familiar.

Aquário ou na Casa XI - Esses indivíduos tendem a mudar de grupo social com bastante freqüência. Sentem-se incompreendidos ou magoados por qualquer contrariedade advinda de seus amigos. São em geral críticos cáusticos dos mecanismos sociais de seu tempo. Preferem elaborar e alimentar a esperança de reequilibrar a sociedade a partir de um modelo pessoal. Podem ser idealistas românticos ou até mesmo rebeldes sem causa. Possuem grande perspicácia política e são compelidos interiormente a agir em benefício de seus semelhantes. Muitas vezes acabam mais atrapalhando do que melhorando a situação, pois podem apoiar-se em alguma inadequação interior ao interferir em algum processo. A amizade das crianças merece a sua mais verdadeira confiança, coisa difícil de acontecer com os adultos.

Peixes ou na Casa XII - Buscam o mágico e o místico em todas as coisas e nunca estão satisfeitos com suas conquistas no plano espiritual. Alguns indivíduos com a Lilith nessa posição negam e renegam qualquer realidade mística, comportando-se de maneira obsessivamente racionalista. Alguns possuem inclinação hipocondríaca. São em geral bastante talentosos. O medo de expor-se e de ferir-se, ou uma forte inclinação para fazer-se de vítima, poderá levá-los a perder grandes oportunidades de realizar seus sonhos.
Valdenir Benedetti
(Texto publicado na revista "Astrologia Hoje" e no livro "Manual de Astrologia Essêncial" - Ed. Ground)