quinta-feira, 18 de setembro de 2008

PESQUISA E ESTATÍSTICA

PESQUISAR O QUE MESMO?



Estou publicando abaixo um e-mail escrito pelo Professor Rodrigo Araês, astrólogo notável que aqui se apresenta mais como professor e cientista do que própriamente como Astrólogo.
O email foi publicado em uma lista regional da CNA, onde aconteciam debates a respeito a necessidade ou não de se fazer "pesquisas" em Astrologia.
Considerei as colocações do Rodrigo brilhantes, coerentes e dignas da consideração de todos que pretendem fazer ou acreditam na necessidade de pesquisas estatísticas dentro da prática astrológica.
Recomendo veementemente a leitura por todos. Tem a expontaneidade e naturalidade própria de um texto escrito em lista de debates, portanto, não é um estudo científico formal, se bem que tem conteúdo digno do maior respeito, além de ser imensamente esclarecedor.
Grato.



USO DA ESTATÍSTICA EM ASTROLOGIA

Por: RODRIGO ARAÊS




Em março deste ano resolvi, por interesse profissional (sou professor da disciplina “Probabilidade, Estatística e Processos Estocásticos”), assistir uma aula de Estatística do Prof. Dr. Júlio César Rodrigues Pereira no curso de Pós-graduação em Cardiologia do IDPC- Inst. Dante Pazzanese de Cardiologia. Aula muito interessante, clara e objetiva. Dr. Júlio nos contou a seguinte história:
“- Fui procurado por um médico da Santa Casa que iria defender tese de Doutorado em Medicina. O motivo de sua procura foi que, por insistência do orientador, ele deveria dar um tratamento estatístico aos seus dados para torná-los mais científicos. Perguntei qual era a casuística, tempo de pesquisa e que a que conclusões ele já tinha chegado. Disse que pesquisava o assunto há mais de dez anos, tinha centenas de casos e com tratamentos bem sucedidos, pois aliava a pesquisa à prática médica. Era conhecido, no Brasil, como um dos maiores especialistas no assunto. Perguntei a ele, em seguida: Doutor, e se a estatística mostrar que o senhor está errado? Sua resposta foi clara. Doutor Júlio (os médicos e advogados sempre se tratam de doutor), isso é impossível, e mesmo que fosse possível nada neste mundo irá mudar o que penso depois de tantos anos de pesquisa e resultados positivos na área. Respondi: Doutor, não perca seu tempo com estatística (e acho que nem o dele), neste caso ela não vai provar nada. Confie mais no seu trabalho e diga ao seu orientador que o que ele está querendo é uma perda de tempo.”
Toda a platéia riu. Dr. Júlio completou: não queiram tirar da estatística o que ela não pode dar. Quando o assunto está vinculado a seres humanos é necessário tomar muito cuidado. Muita coisa que vejo em trabalhos médico não tem sentido.
No meu primeiro dia de aula deste ano lancei uma moeda para cima e perguntei aos meus alunos qual era a probabilidade de dar cara ou coroa. Os que responderam falaram que era de 50%. Retruquei: Como é que vocês sabem? Temos quatro formas básicas de encarar as probabilidades, teoria que é base da estatística: 1. O método clássico (foi o fundamento da resposta deles, baseados em Pascal, Fermat, Laplace e outros). 2. O método frequencialista (von Mises). Jogo a moeda infinitas vezes e vejo a convergência. 3. Método intuitivo, método do “achismo”, utilizado com sucesso em sistemas especialistas. 4. Método Axiomático de Kolmogorov. Hoje considerado o ideal. È muito fácil, para um manipulador, escolher um método, um enfoque que leve a resposta para onde ele quiser.
O que tenho observado ao longo destes anos dando suporte a pesquisa na área médica é que é muito fácil manipular os dados, e sei por verificação própria e por leitura que os cientistas não são tão confiáveis, pois são tão humanos quanto nós. Já no início dos anos 70 houve um simpósio na Unesco sobre a responsabilidade social dos cientistas, colocando o dedo na ferida das pesquisas irresponsáveis. Durante décadas pesquisas estatísticas, muito bem elaboradas e fundamentadas comprovaram que o cigarro não ocasionava danos aos seres humanos. Sabemos dos desastres do “desfolhante laranja” no Vietnã, pesquisa patrocinada pelo exército americano, e dos múltiplos desastres provocados pela indústria farmacêutica. No ano passado fui indagado por uma jornalista da revista “Bons Fluidos”, sobre os efeitos da irradiação dos celulares nos seres humanos. Entrei em diversos sites para saber das últimas pesquisas, invariavelmente diziam que os celulares não faziam mal algum. Ora, fui professor durante 30 anos de Eletromagnetismo, e tenho mestrado em Engenharia Biomédica, fica difícil engolir essa notícia sabendo que quem tem marca-passo não deve usar celular, e que mesmo em pessoas sãs ele altera o Eletrocardiograma.
Como membro de um Comitê de Ética em Pesquisa na Área da Saúde tive conhecimento de práticas em pesquisas, mundiais, de arrepiar os cabelos de carecas. Devido a isso acho muito difícil alguém aceitar uma pesquisa estatística Astrológica feita por pessoas da área. O astrofísico português João Magueijo relata em seu livro “Mais rápido que a velocidade da Luz” a dificuldade de publicar suas conclusões em revistas conceituadas, porque ele contrariava a teoria da relatividade de Einstein. Seu livro relata inclusive uma crítica mordaz de Einstein a um astrofísico russo que comprovou, a partir das próprias equações de Einstein, que o universo era expansivo, e não constante, como pressupunha Einstein. Depois ele se desculpou, tinha cometido um erro de álgebra. O meio científico é um meio igual a qualquer um. Político, burocrático, detrator, invejoso, estelionatário e maledicente. Existem maravilhosas exceções, como em qualquer meio, mas não é fácil mudar os paradigmas existentes.
Já escrevi para a Dra. Elenir o seguinte:
“Sou professor de ”Estatística" e temo pelo tamanho do trabalho e da amostra, daquilo que você pretende. Gauquellin utilizou 35.000 mapas em seu estudo, se não me falha a memória, e ele era estatístico prático de carteirinha. Não me interessa essa trabalheira. Depois de levantar e analisar por volta de 3.000 mapas, nesta vida, confesso que estou mais do que satisfeito com os resultados das minhas leituras. Por outro lado você quer provar que a astrologia é uma ciência exata e, como já escrevi antes, estou convencido que ela não é. Faltam-me conhecimentos e argumentos científicos para provar que a astrologia é uma ciência, no sentido moderno do termo. Mas como disse Confúcio: "Um sábio não tem idéias", ou seja, não se fixa a nenhuma idéia.
Mas vá em frente. Se você conseguir provar ganhará a minha profunda admiração. Aplaudirei de pé. Os modelos antigos, paradigmas como disse Kuhn, estão aí para serem derrubados. Às vezes é necessário que a velha geração, como eu, morra, para que sejam feitas mudanças. A Programação Linear foi descoberta por um aluno que não sabia que um determinado problema era considerado sem solução.
Desejo muito boa sorte. Você é uma mulher de muita coragem e determinação. Gostei da sua postura!”
Elenir, você escreve agora:
“Mas, acho que podemos evoluir ainda mais... agora, entrando numa área que sempre relegou os estudos superiores a um plano de subalternidade, quase de ridicularização.”
Não posso aceitar este tipo de postura. Existem astrólogos matemáticos, astrofísicos, engenheiros, filósofos, médicos, advogados, etc. Astrólogos que não fariam feio aos antigos astrólogos como Morin, Regiomantono, Kepler e Newton. E estou falando só do Brasil. Pessoas de mais alto grau de cultura e sabedoria, mas, como em todas as áreas, compartilhando a Astrologia com ignorantes e despreparados. Como diziam antigamente: “Quem burro nasce, togado ou não, burro morre!” Também não creio que, como já fizeram Choisnard e Gauquellin, uma pesquisa vá mudar a aceitação da Astrologia no meio “científico”, os donos da verdade. Se duvidar, leia Paul Feyerabend que em seu livro “Diálogo Sobre o Método” comenta sobre um abaixo assinado contra a Astrologia que possuía a assinatura de uma plêiade de prêmios Nobel, que evidentemente não conheciam nada sobre a Astrologia. Como Feyerabend escreve: Imagine que são iletrados desta espécie que decidem o que se deve e o que não se deve ensinar nas nossas escolas; iletrados de tal espécie proclamam com arrogante desprezo que as velhas tradições, nunca estudadas nem compreendidas, devem ser erradicadas, independentemente da importância que revestem para todos aqueles que querem viver segundo seus cânones. O mesmo Feyerabend diz: Temos que separar a Ciência do Estado, tal como foi feito com a religião. (Meu Deus! E os fundamentalistas? Irão aceitar a Astrologia?).
A Astrologia tem de história conhecida, no ocidente, de mais de cinco mil anos. Qual outra forma de conhecimento permaneceu por tanto tempo? Como me informou um ex-adido cultural francês doutorando em escrita cuneiforme, aqui em São Paulo, o que os sumérios escreviam como suposição astrológica os hititas informavam como certeza. Qual conhecimento tem 2500 de registro de dados e confirmação de eventos? Essa forma mesquinha de se analisar o conhecimento a partir de medidas - só se conhece o que pode ser medido - é recente e duvido que perdure por mais cinqüenta anos. Os movimentos de estudos interdisciplinares e transdisciplinares, além da moderna visão da complexidade de Morin (Edgar Morin) dão sustentabilidade ao que digo.
Como disse antes para Dra. Elenir, e falo agora para todos, façam pesquisa, mas não contem com a aceitação pelo atual Establishment.
Parodiando Tom Cathcart e Daniel Klein, no preâmbulo do livro “Platão e um Ornitorrinco entram num bar...*”:
Estes são meus princípios, se não gostarem tenho outros.
Abraços a todos,
Rodrigo Araês




* e o barman olha para Platão com um olhar esquisito. O que posso fazer? Retruca Platão, dentro da caverna ela era muito mais engraçadinha.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

ASTROLOGIA DO PRESENTE

“...Aceito o desafio e a ele me atiro, sem restrição, por saber que é tempo de ousar, de reinventar códigos, de lançar pontes para o desconhecido, transgredindo a estreiteza de uma certa mentalidade moderna, dogmática e estagnada no racionalismo tecnicista. Omitir é trair, nesse momento de mutação consciencial que nos exige uma palavra nova, um gesto inédito, enfim, uma contribuição singular. Por mais singela e insignificante que possa ser, que seja!”


Roberto Crema em "Saúde e Plenitude"


Essa é a razão talvez principal desse texto publicado na revista Constelar


quarta-feira, 3 de setembro de 2008

ASTROLOGIA E LOUCURA

Esse texto é antigo. Estava esquecido no depósito de textos antigos. Foi escrito em função de uma discussão qualquer em uma velha e extinta lista de astrologia.
Observando algumas situações atuais, ainda mais em época de eleições, quando mais que nunca os astrólogos começam a olhar apenas para fora de si, ao ponto de alguns até esquecerem-se de onde na verdade vem, e de onde vem a astrologia que praticam, entendi ser oportuna uma releitura desse texto.
Serve para me manter alerta e prestando atenção em mim mesmo. Serve para reconhecer o quanto é possível e perigoso investir na auto-importância e onde essa mesma importância pessoal começa a se tornar uma doença.
Se para mais uma pessoa pelo menos ele for útil, já está valendo.



ASTROLOGIA E LOUCURA


Há aproximadamente 30 anos, meu professor de astrologia, Wanderley Vernili, disse uma coisa que me chateou: "aquele que usa o símbolo inadequadamente será punido por ele". No momento eu debochei dessa palavra, disse que isso era astrolatria e tolice. Levei muitos anos para compreender a profundidade e verdade contida nas palavras do meu mestre, e vou tentar compartilhar com vocês por achar isso muito sério.
O Símbolo (planetas, signos, casas, aspectos, no caso da astrologia) é algo que supostamente nos habita, é um conteúdo de nossa psique, ou mais ainda, é um potencial energético que existe em nosso ser e que é sintetizado e eventualmente traduzido pela mente sob a designação de símbolo, mas que existe e se manifesta independente de nossa compreensão intelectual "dele". Saturno ou Vênus, por exemplo, representam qualidades inerentes ao ser (medo, afeto, desejo, etc.), potenciais infinitos de energia que se manifestam ciclicamente ou quando estimulados por alguma circunstância externa ou interna. Creio que isso é uma visão sintética e simplificada do funcionamento planetário.
Quando um indivíduo "transgride" uma função simbólica, quando permite que, por vaidade ou medo ou outra problemática qualquer, a função Lunar, Saturnina, Mercuriana, ou outra, sejam corrompidas e distorcidas, pervertendo seu significado essencial, esse potencial que foi ativado eventualmente se voltará contra o próprio indivíduo, seja através de comportamentos sórdidos e inadequados, seja através da somatização e doença física, seja através dedistúrbios psicológicos que não conseguem se manter ocultos por muito tempo atrás das mascaras e dos personagens queantes os ocultavam.
O próprio indivíduo é o único canal da expressão do símbolo, e a partir do momento em que ele, o símbolo, for despertado, se a pessoa não estiver no lugar de expressa-lo, poderá tornar-se vítima dessa manifestação energética.
É um pouco difícil aceitar a possibilidade de que a Astrologia pode enlouquecer. Exatamente. Enlouquecer!
As linguagens simbólicas, "sempre" colocam o indivíduo em sintonia com os símbolos dentro de si mesmo, e quanto mais praticadas e estudadas essas linguagens, maior a conexão como símbolo, mais ele é ativado, despertado, e as energias e manifestações desse símbolo ativado passam a representar as motivações básicas, conscientes e inconscientes do comportamento da pessoa e de todas as suas relações, consigo mesmo e com a sociedade. A ativação do símbolo, particularmente entre Astrólogos, tende a conduzir a pessoapara uma conexão cada vez mais intensa com aquilo que os Junguianos denominam "self", os ocultistas denominam "espírito", a essência mais profunda e original do sujeito, enfim. Quando a pessoa está nesse caminho de conexão com os significados reais e naturais do símbolo, e resolve se comprometer com realidades que não sejam pertinentes à pureza e a qualidade do símbolo em si, inicia o processo de transgressão, e começa também a eventual punição do indivíduo pelo próprio símbolo que o habita.
Vejam, não vem nenhuma entidade de fora trazer qualquer castigo, e muito menos sentimentos condicionados de culpa e inferioridade podem ser responsabilizados por isso. O des-astre (rompimento com o astro) vem de dentro para fora.
Por mais que se tente, não há a quem culpar.
Observamos que o comprometimento com valores e condições que agridem a natureza essencial das pessoas, podem desencadear a expressão distorcida do símbolo, trazendo desequilíbrios e doenças de todos os tipos, especialmente para a pessoa reativa, aquela que não percebe estar fazendo isso. A idéia desse comprometimento com circunstancias que agridam a condição original do símbolo, tem relação direta com a imposição cultural da necessidade de ser importante, de ser “especial” ou de “estar com a razão”.
Além da importância pessoal, o maior e mais destrutivo dos venenos, temos visto praticantes de astrologia que confundiram totalmente sua vida e sua prática, misturando conceitos religiosos e místicos com a astrologia de uma maneira bastante artificial.
São praticantes que olham somente para fora de si. Ai está a chave.
As distorções na pratica da astrologia podem aparecer sob as mais diversas formas, mas todas elas envolvem a necessidade de aprovação, ou o medo da rejeição (seja de homens, seja de entidades espirituais.
Envolvem também necessidade de poder e controle, ilusão desaber mais da Verdade do que os demais, e por ai vai mais umalista de aberrações não tão incomuns assim.
Todas as distorções implicam em estar olhando para fora, estar julgando o que acontece fora e negando o olhar para si mesmo.
Aguardemos os próximos capítulos das distorções e vamos procurar nos cuidar para não cairmos também nesse engodo da vaidade e sede de poder.
Basta estarmos acordados, procurarmos ser Pró-ativos em vez de Reativos, e refletirmos sobre qual é de fato a nossa importância, se é que temos alguma.