quarta-feira, 3 de setembro de 2008

ASTROLOGIA E LOUCURA

Esse texto é antigo. Estava esquecido no depósito de textos antigos. Foi escrito em função de uma discussão qualquer em uma velha e extinta lista de astrologia.
Observando algumas situações atuais, ainda mais em época de eleições, quando mais que nunca os astrólogos começam a olhar apenas para fora de si, ao ponto de alguns até esquecerem-se de onde na verdade vem, e de onde vem a astrologia que praticam, entendi ser oportuna uma releitura desse texto.
Serve para me manter alerta e prestando atenção em mim mesmo. Serve para reconhecer o quanto é possível e perigoso investir na auto-importância e onde essa mesma importância pessoal começa a se tornar uma doença.
Se para mais uma pessoa pelo menos ele for útil, já está valendo.



ASTROLOGIA E LOUCURA


Há aproximadamente 30 anos, meu professor de astrologia, Wanderley Vernili, disse uma coisa que me chateou: "aquele que usa o símbolo inadequadamente será punido por ele". No momento eu debochei dessa palavra, disse que isso era astrolatria e tolice. Levei muitos anos para compreender a profundidade e verdade contida nas palavras do meu mestre, e vou tentar compartilhar com vocês por achar isso muito sério.
O Símbolo (planetas, signos, casas, aspectos, no caso da astrologia) é algo que supostamente nos habita, é um conteúdo de nossa psique, ou mais ainda, é um potencial energético que existe em nosso ser e que é sintetizado e eventualmente traduzido pela mente sob a designação de símbolo, mas que existe e se manifesta independente de nossa compreensão intelectual "dele". Saturno ou Vênus, por exemplo, representam qualidades inerentes ao ser (medo, afeto, desejo, etc.), potenciais infinitos de energia que se manifestam ciclicamente ou quando estimulados por alguma circunstância externa ou interna. Creio que isso é uma visão sintética e simplificada do funcionamento planetário.
Quando um indivíduo "transgride" uma função simbólica, quando permite que, por vaidade ou medo ou outra problemática qualquer, a função Lunar, Saturnina, Mercuriana, ou outra, sejam corrompidas e distorcidas, pervertendo seu significado essencial, esse potencial que foi ativado eventualmente se voltará contra o próprio indivíduo, seja através de comportamentos sórdidos e inadequados, seja através da somatização e doença física, seja através dedistúrbios psicológicos que não conseguem se manter ocultos por muito tempo atrás das mascaras e dos personagens queantes os ocultavam.
O próprio indivíduo é o único canal da expressão do símbolo, e a partir do momento em que ele, o símbolo, for despertado, se a pessoa não estiver no lugar de expressa-lo, poderá tornar-se vítima dessa manifestação energética.
É um pouco difícil aceitar a possibilidade de que a Astrologia pode enlouquecer. Exatamente. Enlouquecer!
As linguagens simbólicas, "sempre" colocam o indivíduo em sintonia com os símbolos dentro de si mesmo, e quanto mais praticadas e estudadas essas linguagens, maior a conexão como símbolo, mais ele é ativado, despertado, e as energias e manifestações desse símbolo ativado passam a representar as motivações básicas, conscientes e inconscientes do comportamento da pessoa e de todas as suas relações, consigo mesmo e com a sociedade. A ativação do símbolo, particularmente entre Astrólogos, tende a conduzir a pessoapara uma conexão cada vez mais intensa com aquilo que os Junguianos denominam "self", os ocultistas denominam "espírito", a essência mais profunda e original do sujeito, enfim. Quando a pessoa está nesse caminho de conexão com os significados reais e naturais do símbolo, e resolve se comprometer com realidades que não sejam pertinentes à pureza e a qualidade do símbolo em si, inicia o processo de transgressão, e começa também a eventual punição do indivíduo pelo próprio símbolo que o habita.
Vejam, não vem nenhuma entidade de fora trazer qualquer castigo, e muito menos sentimentos condicionados de culpa e inferioridade podem ser responsabilizados por isso. O des-astre (rompimento com o astro) vem de dentro para fora.
Por mais que se tente, não há a quem culpar.
Observamos que o comprometimento com valores e condições que agridem a natureza essencial das pessoas, podem desencadear a expressão distorcida do símbolo, trazendo desequilíbrios e doenças de todos os tipos, especialmente para a pessoa reativa, aquela que não percebe estar fazendo isso. A idéia desse comprometimento com circunstancias que agridam a condição original do símbolo, tem relação direta com a imposição cultural da necessidade de ser importante, de ser “especial” ou de “estar com a razão”.
Além da importância pessoal, o maior e mais destrutivo dos venenos, temos visto praticantes de astrologia que confundiram totalmente sua vida e sua prática, misturando conceitos religiosos e místicos com a astrologia de uma maneira bastante artificial.
São praticantes que olham somente para fora de si. Ai está a chave.
As distorções na pratica da astrologia podem aparecer sob as mais diversas formas, mas todas elas envolvem a necessidade de aprovação, ou o medo da rejeição (seja de homens, seja de entidades espirituais.
Envolvem também necessidade de poder e controle, ilusão desaber mais da Verdade do que os demais, e por ai vai mais umalista de aberrações não tão incomuns assim.
Todas as distorções implicam em estar olhando para fora, estar julgando o que acontece fora e negando o olhar para si mesmo.
Aguardemos os próximos capítulos das distorções e vamos procurar nos cuidar para não cairmos também nesse engodo da vaidade e sede de poder.
Basta estarmos acordados, procurarmos ser Pró-ativos em vez de Reativos, e refletirmos sobre qual é de fato a nossa importância, se é que temos alguma.

1 comentários:

Maurice disse...

Você se refere com muita propriedade a um conceito grego antiquíssimo que se chama HYBRIS:

"A hubris ou hybris (em grego ὕϐρις hybris) é um conceito grego que pode ser traduzido como 'descomedimento' e que atualmente alude a uma confiança excessiva num mesmo, um orgulho exagerado, presunção, arrogância ou insolência (originalmente contra os deuses), que com frequência termina sendo punida. Na Antiga Grécia aludia a um desprezo temerário para o espaço pessoal alheio unido à falta de controlo sobre os próprios impulsos, sendo um sentimento violento inspirado pelas paixões exageradas, consideradas doenças pelo seu caráter irracional e desequilibrado, e concretamente por Até (a fúria ou o orgulho).
Aquele a quem os deuses querem destruir, primeiro deixam-no louco.
— Eurípides


No direito grego, a hubris refere-se com maior frequência à violência ébria dos poderosos para os débeis. Na poesia e a mitologia, o término foi aplicado àqueles indivíduos que se consideram iguais ou superiores aos deuses. A hubris era com frequência o 'trágico erro' ou hamartia das personagens dos dramas gregos."
extraido da wikipéida