sexta-feira, 1 de agosto de 2008

PROJETO DE VIDA

De que serve uma gota d’água?
Desde o momento em que despenca da bica, da torneira, da nuvem, até o instante em que se esborracha no chão do planeta, sua existência acontece, sua finalidade se estabelece e é absoluta sob qualquer ponto de vista, seu projeto é claro: cair.
O formato absolutamente aerodinâmico da gota d’água, talvez uma das formas mais fluídicas que existam – consegue cortar o ar como o mais afiado dos bisturis – define seu projeto existencial, define o ato de cair, simplesmente cair.
Pode parecer efêmera essa existência, viver para cair, existir para cair, obedecer a lei da gravidade pura e simplesmente como se nada mais houvesse para acontecer. Mas é assim que acontece, e talvez seja assim que aconteça com todos nós.
Vivemos para seguir uma lei, talvez tão exata e inquestionável quanto a lei da gravidade, talvez tão misteriosa quanto a lei que faz os prótons e elétrons gravitarem em torno de um núcleo invisível, e vivemos com a precisa duração do intervalo entre o momento em que somos arrancados da nuvem, da bica, da torneira, da fonte de onde viemos, até o momento único em que nos esborrachamos no encontro com o infinito. Esse é nosso projeto de vida.
A aerodinâmica do corpo que ocupamos, sua constituição, sua forma, definem, como na gota d’água, o projeto de nossa existência, nossa queda em direção ao infinito, nosso recurso absoluto para seguir com a lei que nos conduz.
Temos uma opção fantástica, uma escolha definitiva: dispomos de um recurso que pode fazer com que o projeto de vida tenha um sentido maior: a possibilidade da consciência, a possibilidade de conhecer nosso projeto, compreender nossa finalidade, nos integrarmos à existência não apenas através da forma, mas também por meio do conhecimento e da expansão do uso de nossos recursos e qualidades.
Uma gota d’água que sabe ser uma gota d’água, que se conecta com o significado de sua existência, que compreende sua função no conjunto das forças universais que a originaram. Saber-se uma gota d’água é mais que poético, é como se apropriar do próprio destino, integrar-se à lei, usufruir plenamente dos recursos que Aquele que nos gerou, a fonte, a nuvem, nos concedeu para atendermos a essa finalidade maior que talvez jamais possamos compreender em sua totalidade.
Olhando para o horóscopo, podemos imaginar para onde a gota d’água cai. Se entendermos que a gota é análoga ao ascendente, seu projeto é “cair”, seguir seu destino, e seu formato especial existe em função desse projeto. Tudo perfeitamente análogo à função do ascendente no horóscopo, o Projeto de Vida.
Somos gotas d’água lançadas no infinito, em queda até o momento final, com o formato perfeito e adequado à nossa função, àquilo para o qual a força universal nos fez existir, equipados e formatados para atender uma determinada função dentro desse eterno movimento, desse fluxo, desse tipo de queda que é nossa existência.
Repito a pergunta, cair para onde?
Pensando no horóscopo e sua numeração, será que nosso movimento é em direção a casa XII, acompanhando o Sol como o percebemos, acompanhando o movimento aparente dos signos e planetas em direção ao nascente? Ou será que seguimos a ordem lógica das casas, 1, 2, 3, etc, como um movimento lógico e compreensível?
O entendimento dessa direção, do sentido da gota d’água será aplicável a qualquer condição do horóscopo, será uma leitura possível para sabermos para onde a “energia” planetária se dirige, onde fica o foco de nosso agir.
Bem, de todas as análises que pude fazer, apenas uma resposta me ocorreu, só existe uma direção para onde todas as energias representadas pelas configurações planetárias se dirigem, só existe uma direção possível para onde se encaminham os significados do ascendente e de todas as casas, apenas para um lugar se dirige à gota d’água em sua queda poética na velocidade e no tempo de uma encarnação: o centro.
Tudo no mapa parece se dirigir para o ponto central do circulo. Não existe necessariamente uma seqüência , como propõe tantos autores, iniciando na casa I e prosseguindo até a XII, marcando o movimento da vida. Isso é uma compreensão apenas, um modo lógico de ver as coisas.
O Centro do horóscopo é o próprio centro de si, representa o centro do universo, é a metáfora da Fonte Divina. É o núcleo para onde todas as energias, toda resultante de nossos atos, todo efeito causado e toda causa geradora se encaminham.
O centro de si mesmo é a grande meta, o projeto, o receptáculo das energias, a pia batismal que recolhe a gota d’água de cada projeto desencadeado, cada movimento executado na grande dança da existência. É o lugar onde mora o espírito, o olho d’água de onde brota toda existência, onde são gerados a realidade e todos os conceitos e verdades e mentiras e crenças, que tomam sua forma reconhecível quando se manifestam na periferia do circulo, nas casas.
O centro é de onde tudo flui e para onde tudo volta.
Tudo começa ali e termina ali mesmo.
A casa XII é um campo de projeção psíquica cujo foco é o centro do horóscopo. Ela apenas representa possibilidades criadas pela própria essência da pessoa. O mesmo acontece com os valores simbolizados pela casa II, pelo passado compreendido através da casa IV, pela imagem, pelos conceitos, pelos critérios e tudo mais representado por cada uma das casas do horóscopo. Tudo que fazemos, somos, acreditamos que somos se encaminha para o centro do horóscopo, e ao mesmo tempo, tudo isso é uma manifestação, um reflexo da luz que é emanada a partir desse centro.
Quando nos tornamos esse movimento, quando nos sabemos gota d’água em movimento, incorporamos de fato o projeto de nossa existência e passamos a Ser o que temos que ser. Isso se repete para cada uma das casas, como uma porção de gotas d’água caindo em direção a um único núcleo, o mesmo que as gerou como uma fonte que produz vapor que no devido tempo se transforma em gotas. Parece uma reflexão metafísica, mas é na verdade um fato comprovado e confirmado.
Quando assumimos uma relação firme e consciente com nossos recursos naturais, quando nos integramos ao movimento constante da vida, sem julgamento, sem escolhas de conveniência, tanto quanto uma gota d’água pode ser e fazer, nos tornamos o projeto e ai, nesse instante, cumprimos nosso papel divino, a função real para a qual nascemos e nos destinamos.
O fluxo refluxo energético que sempre reconhecemos ocorrer entre as casas opostas, Eu – Tu – Eu, etc, ocorre apenas no plano da identificação com a realidade aparente. Construção e destruição de valores, passado e futuro, liturgia e conexão divina, etc, todo movimento polar é uma descrição de um processo mental. Absolutamente valida dentro de uma proposta de realidade que dependa da crença na realidade aparente e física, mas ainda um começo, uma simples semente quando se imagina a possibilidade de uma integração verdadeira consigo mesmo e conseqüentemente com o infinito.
Todas as relações entre as casas, ou campos de projeção, passam a ser relações casuais e causais, enquanto a verdadeira e maior relação é de cada uma dessas experiências – que evidentemente se integram umas às outras – com o centro do ser, o núcleo gerador de todas as coisas.
Em outras palavras, cada uma das experiências representada pelas casas terrestres –particularmente o ascendente, que simboliza o próprio projeto de vida – por se encaminharem para o mesmo ponto de fuga (ou ponto de encontro) o centro do indivíduo, o coração, o núcleo de onde tudo emana, é destinada a “regressar”, voltar, cair em direção o centro de onde a energia que elas representam foi gerada.
É um verdadeiro processo de “queda”, mas podemos também chamar de entrega, entrega total ao abismo, permitir-se cair indefinidamente em direção ao centro, em direção a si mesmo, que é onde todas as gotas d’água se concentram e se convertem em vida, se tornam o caminho do infinito.
Permitindo ou não, isso acontecerá sempre.
A consciência desse movimento, desse fluxo e refluxo ao ponto central, onde na verdade nos encontramos, faz com que a roda da vida continue a girar, o “samsara” como dizem alguns. A diferença é que, em vez de estarmos sempre na periferia dessa roda, nos tornamos o centro, a fonte de todo movimento.
Dizem que a roda foi a maior invenção mecânica da humanidade. Creio que a roda é só uma projeção de algo realmente útil: o Eixo.

2 comentários:

silvana disse...

.....De-mais, demais! que presente a sua escrita,tão clara,de brilhantes pedras finas!! Que tu possa seguir com firmeza seu Projeto de vida, assim,distribuindo seus saberes generosos e lucidos.E que vc. possa ser seu melhor mestre,hoje,amanhã e todo dia dando e praticando bons ensinos.Lindo o seu trabalho, seu blog, essas fotos!UAU! ,,,minha oração pra ti é:Deus com vós!
Aqui pra mim...acho que quando sua gota pingar no todo, vc vai espocar, de tanto rir !!
um xeiro, na sua alma limpa.Sil,Alto Santo- Rio Branco-Acre-Brasil

Anônimo disse...

Achei lindo o seu texto !
Fiquei impressionada com tamanha sensibilidade. Como você é poético e sensível!
Até parece que você é um mensageiro do Cosmos aqui na Terra.
Quando você escreve, as palavras fluem de dentro de você com uma clareza absoluta, de uma maneira tão singela que chega a ser comovente, de tão sensível.
Com relação à "Gota d'água", para mim, é quando algo externo, alheio à nossa vontade interfere em nossas vidas, é quando o reservatório transborda e provoca uma inundação de emoções e sentimentos que fogem ao nosso controle, e não há nada a fazer com relação a isso. Independe de nós.
Concordo que o destino da gota d'água seja cair, porém, no caso de transbordar um reservatório, poderia ser evitada.
Aí é que entra o "Projeto de Vida" do qual você falou. Quando decidimos conhecer a nós mesmos e cairmos no abismo que há dentro de nós(e isso é assustador), mergulhamos no processo de auto-conhecimento e retornamos ao princípio de tudo, a existência.
Quando temos um propósito a seguir, um "projeto de vida", as gotas caem sem causarem sofrimento, porque estamos em sintonia com o Universo e com nós mesmos, e mesmo que hajam circunstâncias que nos desviem do nosso projeto - como a água que transborda do reservatório - se tivermos certeza do que desejamos para nós mesmos, a vida flui, como os rios, os mares, e a água cai em uma folha, em forma de orvalho.
E a vida segue seu curso.
Parabéns pelo artigo! Lindo!
Roseli-São Paulo-São Paulo