domingo, 17 de maio de 2009

MERCÚRIO E LINGUAGEM



17 maio 09


Essa semana que passou, durante o movimento retrógrado de Mercúrio, e antes de começar esse debate sobre linguagem, dei duas aulas sobre esse planeta no Skype, para dois grupos diferentes de alunas, inteligentes e questionadoras.


Coloquei que Mercúrio era o planeta que representava a fonte maior da realidade possível representada pelo mapa astrológico, por significar o Agente criador da realidade, partindo, no caso, do princípio que toda realidade apreensível (ou mesmo a suposta realidade mágica, ou, inclusive o que denominamos inconsciente) só existe a partir de sua descrição.


Propus que a Casa que contém Mercúrio representa a área de experiência, ou o campo de projeção psíquica (como prefiro denominas as casas) onde está a fonte, a substância, o procedimento e até o formato como eu crio minha realidade, pois toda realidade possível é descrita e descritível, e afora isso nada mais existe.


Expliquei que os outros planetas envolvidos em configuração com Mercúrio, compõem o quadro elaborado daquilo que o indivíduo chama de realidade. E nesse retrato estão contidas todas as suas angústias, todas as suas dores, todos os seus amores e sua felicidade.


O dispositor de Mercúrio determina limites e possibilidades da ação desse planeta, orienta-o para determinada direção. Distorce, promove, anula, contamina sua força e qualidade, tanto quando os aspectos participam ativamente desse processo.


As casas à sua disposição, bem como os planetas que elas contenham, oferecem recursos, subsídios para a plena expressão desse Mercúrio, ou melhor, da realidade gerada a partir Dele.
Nesse estudo de Gramática Astrológica, Ensinei que Mercúrio, como Indicador Universal da palavra, do pensamento, da linguagem enfim, era responsável e a chave para a compreensão de todos os nossos problemas, e a porta de saída – ou de ingresso – para outra realidade, ou para um mundo “idealmente” melhor.


Claro que “choveram” perguntas, porque parecia que eu estava invalidando o significado dos outros planetas e pontos do horóscopo.


Imagina alguém que se orgulha de sua quadratura Sol Saturno e atribui a ela todos os seus problemas, ou alguém que tem Venus em quadratura com Plutão, e coloca ali a responsabilidade sobre seus dramas afetivos, enfim, imagine ouvir que, de repente a chave para a compreensão e resolução de seu drama existencial não está nessas configurações e sim, no “coitadinho” do Mercúrio, para quem nem se dá tanta atenção assim...


A chave está, basicamente, na descrição, que é quem Cria e Sustenta o problema.
Da até uma sensação de vazio, não é?


Então surge esse debate na lista da CNA a respeito de Astrologia ser uma Linguagem ou outra coisa. E dou meu parecer, por sempre ter achado no passado que Astrologia era uma linguagem, e por ter mudado de idéia, tanto pelo meu desconhecimento acadêmico dos significados mais profundos da palavra Linguagem, como também por concluir que Astrologia é apenas Astrologia em si mesma, etc.


Mas com a mensagem profundamente esclarecedora do Dr. Markus, lingüista e professor da matéria, percebi que até mesmo a Astrologia está “contida” na Linguagem, se é que entendi direito (espero que sim).


O poder conceitual de Mercúrio no mapa cresceu, portanto.


No Orkut, em debate sobre o mesmo tema, a Dra. Maria Tereza, também lingüista, sintetizou em linguagem “orkutiana” o que Dr. Markus escreveu por extenso, e vou copiar aqui um trechinho de sua síntese:

“(...) Eu acho q em vez de pensar em conceitos -- o q no momento me dá uma enorrmee preguiça --, a gente pode só olhar em volta: existe alguma coisa neste mundinho q possa existir sem ser enunciado? Existe algo q esteja fora da linguagem? E não estou falando em linguagem verbal -- as palavras e como elas são ditas -- mas os seus tantos níveis: o não-verbal q vai desde a direção do olhar, até onde coloco minhas mãos. Suspirar? É linguagem, comunica algo p/ meu interlocutor. Chorar tb. E por aí, se vai.
Se alguém conseguir dizer aqui, descrever algo q exista por si só, q esteja FORA da linguagem -- verbal e não-verbal -- q apresente as armas (...). “

Vejam, não estou levianamente tirando o poder dos outros planetas e dando para mercúrio, estou apenas dando a distinção devida a ele em função da condição existencial do Ser Humano nesse planeta.
Trabalho com o conceito de Significador ou Indicador Universal de uma questão – conforme qualquer um de meus alunos pode explicar para quem perguntar – e não com a função Acidental da comunicação do Indivíduo, a qual será compreendida a partir do estudo da Casa III e seus indicadores acidentais, condicionais, etc.


Estamos aqui trabalhando com a idéia do indivíduo se inserindo em um universo, seja criação sua ou não, mas além de seu talento e potencial individual (representados por sua Questão III).
O Indicador Universal de uma questão do horóscopo é aquilo que faz com que, ao ver uma mesa, “eu” e o “outro” concordemos que aquilo é uma mesa – que cada um de nós supostamente está criando com sua descrição – ou seja, aquilo que alguns chamam de maya, ou ainda aquilo que os quânticos “new age” chamam realidade quântica, como no filme “Quem somos nós”, enfim, Mercúrio é o indicador Universal da Linguagem, do Pensamento que permite que nós vejamos a mesma coisa quando juntos. O conceito da coisa (mesa por exemplo) é quem praticamente gera a imagem e o significado da coisa dentro de cada um de nós, e a conseqüente concordância e que “aquilo” é uma mesa, por exemplo.


A Dra. Maria Tereza também coloca brilhantemente algo que é um argumento fortíssimo a favor do significado de Mercúrio como núcleo central de todas as questões existenciais propostas pelo horóscopo (ou pelo dono do horóscopo)

"Ah, q tolice, uma árvore existe, não precisa ser falada ou apontada não - verbalmente p/ q exista" -- pode alguém dizer por aí. O negócio é q mesmo uma árvore, uma floresta, inteira, o céu etc., só existem p/ nós, pobres mortais, qdo olhamos e nomeamos: árvore, floresta, céu etc. “.


Da para entender porque na cultura ocidental, Mercúrio é, no presente, tratado como o maior dos Deuses, acima até de deuses de outras culturas, como a judaica, a cristã, muçulmana, etc.
Basta ver qual é o altar que a maioria das pessoas tem em casa, a TV, o Radio, o Computador, aos quais diariamente se presta tributo.
Basta se ver o valor e a importância que é dada à informação, ao ponto de se chamar a “mídia”, os produtores e criadores (e na maioria das vezes deturpadores) de informação de “o quarto poder”.
E mesmo com o coração apertado de quem ainda está programado e condicionado para achar que alguma coisa precisa ser mais importante que outra, como alguns planetas ou alguns sentimentos, por exemplo, a gente constata que não é bem assim... O conceito é a medidada importância de algo, ou seja, a importância não existe em si mesma...
E como conclui a nossa amiga no tópico do Orkut:

“... então, enquanto a Astrologia for realizada/praticada por pobres mortais, teremos q lidar com essa maravilha e ao mesmo tempo, essa limitação, q é a linguagem.”

Minha conclusão final sobre o tema (mas não definitiva), se bem que ninguém perguntou, é que:

A LINGUAGEM CONTÉM A ASTROLOGIA.


E, como proposta de trabalho, continuo a fazer exatamente (com upgrades a qq dia e hora) aquilo que sempre fiz e convidei os clientes e alunos a fazer: desconstruir seus conceitos todo dia, pelo menos um por dia, usar a linguagem para superar o que a própria linguagem impõe.

Grato
VaL

sábado, 16 de maio de 2009

ASTROLOGIA & LINGUAGEM




O QUE NÃO É ASTROLOGIA


Se mudarmos a pergunta, talvez possamos ter outras respostas e não ficar circulando atrás de explicações que vão apenas satisfazer um paradigma cultural, pois todas as respostas que possamos encontrar dentro de uma determinada premissa cultural – no caso, ciência ou não ciência, humanas ou exatas – obedecerão necessariamente a essa premissa, tanto faz se for contra ou a favor, mas sempre circulando o mesmo eixo, como o cão atrás do rabo.


Realmente, há uns 25 anos meu discurso era de que a Astrologia não era nem ciência e nem arte (como alguns diziam), mas sim uma linguagem, e, aplicável à ciência e a arte, ou melhor, um instrumento de sua própria ciência e arte, de acordo com sua “práxis”.


Entendia eu (e não abri mão inteiramente desse pensamento) que, funcionalmente, a Astrologia podia ser comparada a uma linguagem pelo simples fato de que ela, a Astrologia, surgiu da necessidade de compreensão que o homem tem de seu papel nessa realidade. Quem Sou Eu, De onde eu vim, para onde vou, o que estou fazendo aqui, etc., etc. esse tipo de perguntas existe em cada criança e em cada adulto, mesmo que às vezes a gente se distraia e se esqueça de perguntar, e aposto que essas perguntas devem existir desde que o primeiro sopro do pensamento invadiu o primeiro homem que ficou em pé.


Qualquer pergunta, para ser respondida, precisa de um tipo de código de compreensão, que não precisa ser necessariamente a linguagem falada, e pela necessidade dessa compreensão original, creio que a observação da natureza foi estabelecendo os códigos e fornecendo os elementos, o alfabeto para que a linguagem da relação Homem – Natureza se estabelecesse.


A Astrologia como Linguagem surgiu da necessidade do Homem entender sua relação com a natureza e seu papel nesse plano. Vejam bem, estou afirmando que a Linguagem surgiu de uma necessidade específica, e creio que a necessidade de algum tipo de entendimento está na gênese de qualquer linguagem.


A diferença entre a Astrologia (vista como linguagem) e as outras linguagens é que a necessidade das línguas normais é a comunicação entre os seres, e a necessidade que gerou a Astrologia é a comunicação dos seres com a própria natureza, o entendimento de seu papel no contexto maior. Ai vemos uma diferença funcional imensa.


De um lado, todas as línguas do mundo (as conhecidas, vivas ou mortas) e do outro, a Astrologia.
Então, Linguagem passa a ser muito pouco para a amplidão do que é a astrologia e seu papel, até mesmo na presunção de nos comunicarmos com os deuses, com a natureza como um todo, e a utilizarmos (em função de nosso limite humano) como linguagem, creio que estamos apenas triscando uma lasquinha da grandeza que é a Astrologia.


Não, não estou mitificando ou atribuindo valores absurdos e subjetivos à Astrologia. Estou dizendo o que sinto: que ela está além dos limites estabelecidos por qualquer linguagem, inclusive os limites com que podemos vivenciar e abordar a própria linguagem astrológica.


A Astrologia é simplesmente Astrologia. Possui uma gramática sim, para poder ser absorvida por nossa limitada mente, possui nessa gramática, em função da estrutura de pensamento permitida aos humanos em seu estado comum de consciência, uma morfologia, uma sintaxe, semântica e essas coisas todas. Mas isso é apenas o recurso razoável para que possamos acessar uma migalha da grandeza da Astrologia, que é: a Compreensão da Ordem do Universo, da Lei que estabelece as relações entre todas as coisas (isso é tão grande que não cabe no meu pensamento, só Deus mesmo pra pensar algo assim tão complicado).


Então, Tem linguagem, Tem ciência, Tem arte, Tem poesia, Tem musica e alquimia, a Astrologia Tem tudo isso, comporta tudo isso, mas não é nada disso em si mesma.


Astrologia é apenas, no meu entender, Astrologia.


E não vai se submeter à necessidade humana de classificar e discriminar todas as coisas (alguns chamam isso de ciência) para termos a ilusão de que podemos controlá-la, e de que não somos tão pequenos assim, diante da grandeza da ordem magnífica do universo.


Grato

sábado, 14 de março de 2009

COMITÊS ÉTICOS - UMA PROPOSTA




ENQUANTO FIZERMOS ALGO DO MESMO JEITO,
OBTEREMOS O MESMO RESULTADO.


Sobre todos os modelos que se apresentam de Códigos de Ética e seus conseqüentes Comitês de Ética, ou Conselhos, ou Órgãos Reguladores ou fiscalizadores, de suas respectivas classes ou categorias profissionais... fora a palavra Ética, as outras são bem Mercurianas (Códigos, Comitês, Conselhos, Órgãos Reguladores, Classes, Categorias Profissionais, fiscalização), e atendem bem à exigência do "deus" que tem dominado e eventualmente corrompido a humanidade já há algum tempo, talvez milênios, o próprio Mercúrio.

Estou falando isso apenas para utilizar a linguagem comum chamada Astrologia. Quem a conhece um pouco sabe o que pode querer dizer "domínio de Mercúrio": o domínio da razão, o domínio do pensamento, do discurso, da "explicação".
É possível contestar essa prevalência da função mercuriana nos movimentos humanos descritos pela história?
É evidente que todas as outras funções planetárias estão presentes, pois há desejo, há afeto, há vontade consciente, existe sentimento, masculino, feminino, ação, luta, tudo isso, como exemplo, sendo representado por outros planetas.
Mas sobre todos eles paira a sombra da razão. De certa forma, experimenta-se um processo de se tentar dominar todas as funções descritas pelo pensamento, particularmente, pelo pensamento racional.
Estarei exagerando?

O altar principal dos lares modernos é um ícone mercuriano: a Teve. Em segundo lugar vêm os outros objetos próprios desse deus falador: computador conectado, telefone, radio e uma infinidade de "gadjets" mercurianíssimos.

Bem, voltando ao tema do código de ética.

Qualquer proposta que se faça de código de ética,seja de natureza Kantiana, seja de natureza Aristotélica, estará submetido ao domínio do deus vigente em nossa era, o deus da razão e da informação, e pelo que se observa nas reações e movimentos humanos --dentro da força desse domínio-- dos "scripts" (como pequenos programas de computador) que são a sistemática funcional mais pertinente com a força mercuriana, ou seja: a repetição mecânica de scripts a partir da resposta automática a estímulos mentais.

E assim será por todo sempre.
Será?

Então, qualquer entidade criada com o sentido de estabelecer códigos e regras, estará sendo coerente com o próprio princípio de mercúrio, que adora justamente códigos e regras, e estará portanto, a entidade, endossando e subsidiando a manutenção do mesmo sistema, e dentro dele, todas as mazelas se repetindo, como falta de ética, ganância, corrupção, mal caratismo e outras coisas do gênero, distorções anuladoras da expressão maior possível dos símbolos todos, e lideradas estranhamente por mercúrio, e acho que esse é o significado da posse do "fogo dos Deuses", que Prometeu roubou, mas parece que guarda a formula até hoje...
A mente controla o "fogo divino". Isso pode fazer sentido?
Ou, será a melhor alternativa?Especialmente quando o controle desse "fogo" é feito através da mecanização do homem pelo mecanismo de só lhe permitir experimentar variações de scripts já determinados.

Qualquer entidade feita sob o domínio e utilizando o mesmo padrão eternamente repetido de administração, função e principalmente, Proposta, conduzira a tribo para o mesmo lugar que todas as entidades controladoras já existentes conduziram.
Precisa explicar isso?
Refiro-me a conselhos de classe ou órgãos reguladores, com exceção para medicina e engenharia, que oferecem risco considerável à vida da pessoa, e, pela imaturidade humana e a necessidade de repetição inconsciente de scripts, precisam ser vigiados, infelizmente.
Mas até isso pode mudar
Alguém tem que começar.

A Astrologia, por uma graça do destino e por sua própria natureza e essência, conseguiu escapar até hoje de órgãos reguladores e conselhos de classe, e não foi por falta de esforço de pessoas interessadas em fazer isso, e que acreditam na necessidade de controle, evidentemente associadas com outras pessoas interessadas em serem controladas por não poderem acreditar, dentro de seu universo, que uma pessoa possa ser responsável por seus atos.
Talvez isso faça parte do modelo educacional familiar do ocidente, criar esse tipo de dependência passiva a um poder paterno, e eventualmente produzir a reação revolucionaria hormonal adolescente, que resulta, se o passivo tomar o poder, em um novo modelo de tirania, porque afinal, ele saberá o que é "certo para o povo".
Estou sendo irônico nesse parágrafo.

Prosseguindo mercurianamente o raciocínio: qualquer entidade reguladora de uma classe criada dentro desse modelo se tornará limitante, mesmo que seja aparentemente necessário "orientar" as ovelhas desgarradas do rebanho... (argh...).

Puxa, mas parece tão necessário isso... ainda mais quando vemos cidadãos que praticam nossa mesma profissão, fazendo publicamente papéis que nos envergonham e criam uma imagem de demência, vulgaridade, falta de profissionalismo ou coisas do gênero. Então dá vontade de punir o sujeitinho, mostrar pra ele que está sendo antiético e mostrando que ser astrólogo não garante ser bonzinho, nem honesto, nem leal, nem digno e nem ao menos coerente!
Bem, a palavra "punir" aqui foi infeliz. Também não tem sentido pessoas que fazem uma caminhada espiritual pensarem em algo tão baixo como punição aos que convencionamos achar Errados, que nos incomodam por não serem os Certos que a gente estabeleceu.
(E também estou tentando ser irônico nesse parágrafo.)
Mas, refletindo agora sobre a coerência dessas palavras, sobre a necessidade de orientar alguns que amalucaram em nossa profissão, eu me lembrei da historia da convenção dos ratos, quando eles decidem resolver seu maior problema pendurando um sino no pescoço do gato, e assim saberiam quando ele estava chegando...
Se alguém não sabe o final da historia, basta dizer que nenhum rato topou...
Estou falando isso porque, tem atitudes e pessoas que é muito fácil ver que é necessário dar limites, já que os pais não deram, mas essas pessoas costumam construir sua própria insignificância com tanta eficiência e ardor que sucumbem no próprio fogo muito rapidamente e correm de volta para sua toca.
De vez em quando aparecem, mordiscam alguns calcanhares e voltam pra toca, porque se invalidam a cada palavra ou gesto, de tal modo que um conselho regulador de sua falta de ética ou vergonha na cara seria algo "over", gasto de energia, tempo e dinheiro totalmente desnecessários.
Até porque, esse tipo de pessoa mínima não aceitaria jamais uma orientação de um conselho que não fosse punitivo e policialesco, porque é a única linguagem que os assusta, porque geralmente assim eles são, e aposto que quem aqui estuda o comportamento humano mecanizado e seus padrões; antropólogos, psicólogos, astrólogos, podem confirmar o que estou dizendo.
Existe outro tipo que merece o sino, e é formado por cidadãos mais ilustres na comunidade, seja na astrológica, seja na "mídia", ou na sociedade em geral. Pessoas que criaram um personagem tal que adquiriu prestigio e poder tamanho que pode causar um certo estrago no contexto da astrologia, na imagem dos profissionais, na atividade toda enfim.
Serão esses chamados para "examinar e orientar" a má conduta dos rebeldes ou dos imbecis mencionados, ou serão eles chamados ao exame e orientação por um conselho composto de "notáveis" mais notáveis que eles mesmos?
Quem vai pendurar o sino no gato?
Quem conhece alguma parte de mim sabe que não fico detonando uma coisa sem apresentar algo razoável no lugar.
E não estou detonando nada, apenas apresentando uma visão coerente a respeito de um modelo de controle que, se não é totalmente falido, atende apenas ao interesse de perenização e até de incrementação de um padrão velho e mofado.

Bem, minha idéia é não fazer nada.




Não fazer nada, repito!

Nenhum código de ética, código moral, regras de comportamento e principalmente, nenhum órgão controlador do código, da regra e da orientação ou dos castigos.

Absolutamente nada do que já foi feito até agora por todas as entidades, porque, se assim o fizermos, obteremos o mesmo resultado!

E qualquer um com um pingo de lucidez e ausência de medo de mudança, pode perceber que repetir esse modelo é escolher algo retrógrado, negar o progresso que só pode acontecer a partir de mudanças constantes, senão a própria palavra progresso se torna tola.

Sem um movimento firme de acordarmos e nos tornarmos conscientes de nossa responsabilidade sobre absolutamente tudo que é vivo, enquanto formos também vivos.
Sem um gesto objetivo no sentido de assumirmos que não são mais nossos pais ou governantes que vão varrer o chão de nossa casa, recolher a cueca do chão e preparar o pão e o sustento, vamos continuar dependendo daqueles que escolhermos democraticamente, ou que por seus próprios méritos se colocar no lugar de nos comandar, orientar, policiar e corrigir segundo sua natureza pessoal, suas projeções, suas vicissitudes, suas idiossincrasias, etc....

Não somos responsáveis nem pela nossa loucura, aliás, quem de nós acredita que possa estar sendo antiético ou maluco e precisando de orientação?
Alguém pode assumir isso publicamente? Ou será que Todos Estamos Certos e Fazendo o Melhor que Podemos?

Por isso tudo estou dizendo que, em princípio e até que venha um argumento inteligente em contrário, não sou nada favorável a um conselho ou "grupo de orientação" (nomes amenizadores não vão descaracterizar a função da coisa em si).

Não estou fazendo o discurso da rebeldia pueril, tipo "si hay gobierno soy contra", e nem ao menos estou tentando desacreditar os órgãos fiscalizadores e reguladores já existentes em outras classes.

Acontece que eles estão voltados à manutenção do mundo como sempre foi, simplesmente e sem questionar.
Eu estou olhando para frente, para as infinitas possibilidades que existem quando se desatrela o cavalo da carroça que o retém no eterno estábulo do passado.

É assustador agir apenas pela consciência de si e do entorno, sem ter ninguém controlando a gente não é? Mas se não começarmos, continuaremos repetindo o velho script e obtendo o velho resultado novamente, alimentando-o eternamente.
Será isso o certo?
Ok, que seja, mas então, que não se fale mais em crescimento e transformação, que essas palavras só podem representar atuações repetitivas e caricatas e mais nada.
Espero estar sendo contundente na apresentação de minhas idéias.

De qualquer maneira podemos aproveitar a oportunidade e simplesmente experimentarmos de um novo jeito.
Esquecermos qualquer entidade com função controladora, e inclusive códigos e regras, simplesmente, e praticarmos consciência.
E quando virmos alguém fazendo algo que não gostamos, trabalharmos com nossa responsabilidade nisso, sabermos o que temos feito para permitir que baratas e vermes fertilizem em nosso quintal e resolvermos nossa parte dessa coisa, porque ninguém vai convencer uma barata a deixar de ser barata.

Existe algo que pode ser feito:
Um fórum permanente de debates, inclusive assumindo-se honestamente as criticas e a narrativa dos fatos que possam perturbar, envenenar a trigo, ou prejudicar indivíduos e sujeita-los à injustiças e atos sórdidos que podem ocorrer.
E quando alguém for apontado e denominado dentro desse fórum (virtual, de preferência) por alguma inadequação cometida, que o cidadão seja convidado a se expor e assumir seu ato, se defender, se explicar, não como em um tribunal, mas como um grupo de pessoas que estão no mesmo barco, feliz ou infelizmente.

Coisas que um conselho de ética cuidaria verticalmente e a seu modo, provavelmente.

Mas não podemos escolher criar um órgão de controle ou orientação motivado pela minoria que julgamos e que mostra ser equivocada, isso só justifica e reforça essa minoria de malucos antiéticos ou o que for, endossa, e nos obriga a ter despesas, gastar energia e pagar pedágio pra eles, conferindo-lhes um poder muito grande por serem ovelhas negras no rebanho. Isso não creio que seja certo.

Bem, se simplesmente mantermos o dialogo franco e transparente sobre o tema, manteremos a mente alerta e a atenção desperta, e isso é mais que o suficiente, porque, além de cuidarmos, assumirmos e corrigirmos a nós mesmos, ao outro só podemos dar o exemplo e nada mais, não nos compete e, pior, não adianta julga-lo e impor alguma correção a ele.

Só se for para satisfazer nossa raiva, nossa magoa, nosso ego ferido e traído... Ou então, para obter um tipo de poder pobre, que de outra forma não teriamos por competência, o poder conhecido como "poder do porteiro do prédio".
(O pronome no plural nessa frase foi totalmente proposital).
Essa é minha posição, e convido aos que leram até aqui, que o texto é longo de propósito para triar os leitores, que me convençam do contrario, me convençam da validade de tudo que estou descartando como inutilidade e atrazo de vida para nós da astrologia, que me convençam com bons argumentos, pois assim, eu vou poder continuar na zona de conforto e todos vão me achar legal e bonzinho.

(estou sendo irônico ai no finalzinho....)

(tenho feito esses avisos eletrônicos de ironia porque percebi que algumas pessoas precisam ser avisadas que é isso, mas provavelmente essas não estão lendo esse parágrafo aqui.)

Grato, imensamente.

Valdenir

PS: a primeira coisa que um vírus (o mal) anula dentro do computador é o Antivírus.
Isso é o que acontece dentro do padrão do qual estou propondo que pulemos fora.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

COISAS DE CASA VII

COISAS DE CASA VII

Tempo e espaço, duas linhas que se cruzam em nossa mente e em nossas vidas, marcam o centro, o ponto onde estamos existindo. Talvez jamais venhamos a saber o que são o tempo e o espaço, mas temos a percepção constante deles, sentimos seu fluxo a cada movimento, em cada pensamento.
As relações se estabelecem e são percebidas na dimensão chamada Espaço, onde a energia minha e tua fluem, aonde eu vou para você e você vem para mim, onde nossos olhares se cruzam e criam outra realidade, geram o sentimento, produzem uma nova onda de energia que irá se espalhar através do universo. Tudo isso num instante único e definitivo, tudo acontecendo submerso na dimensão do tempo, todas as sensações e movimentos gerando ondas de tempo. Sementes do que há de vir.
Quando eu te conheço e em você me reconheço, quando eu vejo o espelho de mim mesmo em teu olhar e você vê em mim tudo que está guardado em teu coração, estamos no cruzamento dessas linhas, estamos no vértice do tempo/espaço, estamos criando uma nova onda de realidade. Haja sentimento ou não, tanto faz, pois nesse momento em que nossos olhares se encontram somos criadores, nossa força unida produz vida, cria realidade e nos tornamos canais da expressão divina. Essa é a força do amor, a expressão da natureza que se chama amor e que faz a gente se encontrar e se tornar seu canal, seu veículo.
Na circunferência do horóscopo, esse gráfico que pretende representar o fluir da força universal através de nós, e que pode sugerir no plano de nossa psique, a expressão do amor e de toda força da natureza, encontramos esse cruzamento de linhas, uma horizontal representando o espaço, e outra vertical representando o tempo, linhas básicas e fundamentais para estabelecermos as relações dinâmicas entre essas dimensões e tentarmos entender como nos localizamos nelas ou como elas acontecem em nosso viver.
As relações se estabelecem horizontalmente, exatamente como ocorre na superfície do planeta, a energia flui de mim para você e de você para mim, Eu e Tu se encontrando submersos no oceano da existência, e entre nós dois, o tempo misterioso dando significado e substância ao nosso encontro. Eu e Tu num fluir e refluir constante, eterno, absoluto. Mesmo que nossa consciência não esteja preparada para captar e absorver a totalidade de significados e expressões possíveis nesse fluir vital, ele acontece. O eixo I – VII, números atribuídos para facilitar a representação gráfica desse movimento, é o eixo que representa o lugar onde ocorre física e emocionalmente nossa relação.
O ponto I, o Ascendente, representa o projeto de minha vida, representa meu começar, o constante iniciar que ocorre entre a inspiração e a expiração, no espaço entre uma batida e outra do coração, exatamente como a pausa infinita que acontece com o mergulhador entre seu movimento ascendente e a longa queda, o instante parado no ar antes de mergulhar, antes de começar de novo o novo movimento da vida. Todo esse fluxo do existir se dirige em direção a você, ao “outro”, sua direção natural.
Antes que meu projeto de vida te encontre, eu tenho que considerar que meu passado, minha historia de vida estará presente em cada ato executado, em cada gesto. Tudo que eu vivi está contido em mim. Coisas esquecidas, experiências bem resolvidas, mágoas, meu conteúdo é minha história, a substância com a qual sou construído, é a base para que eu execute meu projeto e continue a viver essa historia.
Até o final, até cada novo começo, o tempo se faz presente, se torna fato, matéria, energia, conteúdo de minha psique, força mental e força de agir. Irei até você, até o outro, minha energia fluirá carregando minha história pessoal, muitas vezes fonte de luz e poder, outras vezes sombras que invadem e obscurecem o movimento.


Na dança de nosso encontro, o outro extremo do eixo do tempo também estará presente, minha expressão social, minha imagem, meu status, aquilo que eu tenho para ser admirado ou negado. Você me verá através dessa imagem, ela estará tão presente em nosso encontro quanto a historia que cada um de nós já experimenta desde o nascimento. Mais uma vez o tempo se faz presente. O passado se incorpora ao meu movimento em direção à vida, em direção ao outro, a você, e o futuro se evidencia através da minha imagem, daquilo que você pode perceber em mim como um poder, como um potencial de executar meu papel no mundo, de ter uma performance, de ser alguém, de dar significado a mim mesmo e ao nosso encontro.
Na construção de minha personalidade, que é o veículo no qual irei te encontrar no outro extremo do eixo do espaço, os ingredientes principais são minha historia de vida, o ponto IV do gráfico do horóscopo, e a expectativa que a sociedade, o mundo exterior tem de mim, e que eu tenho dele, o ponto X do gráfico. Meu ascendente é completado por esses dois elementos, dois desafios, duas tensões, duas quadraturas que me mantém coeso e inteiro. Esses dois canais de ingresso na dimensão temporal, passado e futuro, historia e possibilidade de crescimento, campo IV e campo X, estão e estarão sempre entre nós dois, no caminho entre meu ascendente e meu descendente, que simboliza a dinâmica do encontro com o mundo e com o “outro”. Não existe outro caminho para que eu possa chegar até você, me projetar em você, me encontrar em você, sem atravessar essas duas extremidades do eixo do tempo, sem enfrentar minha história e meu papel no mundo, e isso é perfeitamente natural, faz parte da Lei, faz parte do nosso encontro.
Vivemos, no entanto em um mundo complexo, com pouco espaço para exercer plenamente nossos dons, e espremidos entre desejos, necessidades, medos, controle e insegurança, acabamos por criar elementos inadequados à nossa plenitude, ao movimento sereno e pleno em direção à vida, em direção ao outro, e tudo isso que nos é impingido por uma realidade muitas vezes hostil, como uma cascata que flui de geração em geração, de pai para filho, água contaminada por dores e medos de outros tempos – a “má-água”. Com todo esse conteúdo que carregamos, somos muitas vezes conduzidos a expressar nosso projeto de vida de uma forma errada, inadequada, sombria.
A inadequação acontece quando fixamos nossa atenção no passado ou no futuro apenas, no ponto IV ou no ponto X do eixo do tempo. Essas dimensões deveriam ser valores de conteúdo na expressão de nosso destino, de nosso projeto, mas por força de circunstancias limitadoras e minimalizadoras da formação de nossa personalidade, ou por imposição da cultura e da moral de nosso tempo, essas questões acabam se tornando prevalentes, prioridades no caminho até você, e nesse momento, eu deixo de ser eu para ser meu “meio do céu” ou meu “fundo do céu", e é isso que você vai receber de mim, apenas minha relação com o tempo e não minha essência e minha totalidade.
Em nosso movimento em direção ao outro, pode acontecer de eu me dar muita importância, e você se conectar em mim em função de meu ilusório “status”. Nesse caso, essa será a base de nossa relação, e por isso vou me afastando de mim mesmo e me conectando nessa auto importância, ou nas expectativas sociais a meu respeito. Deixo de ser Eu para ser o que esperam que eu seja. Me afasto de meu Ascendente para me tornar o Meio do Céu. O sucesso, o reconhecimento social passam a ser a referencias e o alicerce de nossa relação.Você para de se relacionar comigo e se vincula a minha imagem social.
Em nosso encontro nessa vida, talvez eu seja uma pessoa que carrega o passado consigo de uma forma muito intensa. Só o que aconteceu interessa. Só o valor de minha raça, meu sobrenome, meu berço interessam. Mais uma vez não serei eu a me relacionar com você. Será sim aquilo que eu quero acreditar que corresponde a minha história, com minha família a tiracolo, meu passado impregnando cada gesto meu, tudo que já passou menos o que eu sou agora. Só posso entender minha historia até onde vão os limites de minha capacidade de compreensão, por isso, muito do que eu acredito que eu sou a partir de minha relação com o passado pode ser uma fantasia que eu faço de mim mesmo e por isso, posso estar me relacionando com você por meio de um veículo ilusório, uma crença que me impuseram e que eu aceitei, e isso pode transformar nosso contato em algo irreal, um teatro, uma farsa, um vínculo baseado em nada.
Ambos os movimentos, os caminhos que eu sigo até você, o caminho da casa IV e o da casa X, quando rígidos e absolutos me afastam de mim mesmo. Quem se relaciona com você é uma parte de mim e nunca minha totalidade. E como ao segui-los eu deixo de ser eu mesmo, deixo de estar conectado a meu projeto de vida e minha própria essência, pode acontecer dos aspectos obscuros de minha personalidade, aquilo que não vivi por estar iludido, ou as distorções e patologias sociais que eu assimilo e não consigo evitar, se tornarem dominantes em nossa relação, em minha relação com a própria vida. A sombra do passado e a névoa do futuro me possuem e contaminam nosso olhar, distorcem no espelho o que eu vejo de mim em você e do que você vê de si própria em mim.
Esses caminhos que escolho também me afastam de você. Você vê em mim o que permito que você veja. Você vê o que eu não sou, não fui e nem serei, e eu vejo em você somente aquilo que meu olhar ansioso e obscurecido permite ver.
Quando em nossa relação surge o problema de eu perder a identidade e me afastar de minha própria essência, meu instinto de preservação me obriga a reagir a isso, e dai surge a mágoa, a aflição, o medo, e tudo isso eu atribuo a você. Mas lá, do extremo oposto de meu ascendente, o mesmo medo, a mesma magoa estão vindo. Você também está perdendo a identidade. Não se pode fugir do espelho.
As referencias temporais de nossa existência, nosso passado e nosso futuro, desafios e recursos que deveriam ser estímulos ao nosso crescimento, transformamos em infelicidade, em amargura, em insatisfação. E estamos enganados. Estamos nos enganando apenas.
Nada disso precisa acontecer. A compreensão de que estamos sendo vítimas de um erro de focalização, de uma distorção de nossa visão, pode nos ajudar e não sermos vítimas de nossas próprias sombras e apegos.
Existe uma luz maior, e nós estamos envolvidos por essa luz. Ela é muito mais poderosa que qualquer sombra. A luz do amor que fez acontecer o encontro em nossas vidas, que fez seguirmos em direção um do outro. A luz do amor que nos aproximou para aprendermos um com o outro e a partir dai, seguirmos nossos caminhos. Isso sempre pode acontecer entre os seres humanos. Todas as vezes que o eixo do espaço é amorosamente ativado, somos inundados pela luz.
Estamos aprendendo a entender o que da historia de vida de cada um encontra ressonância no outro. O que da expectativa social de cada um existe no outro. Nossas referencias internas estão ativadas, e elas, quando não são conscientizadas, se tornam perversas para nós mesmos, nos enfraquecem e machucam, talvez por não terem sido vividas direito, talvez por não terem sido resolvidas, talvez por terem sido implantadas em tempos de inocência. Mas as referencias interiores de nossa vida estão ai para serem usadas e trabalhadas. E se o destino nos colocou juntos, é porque podemos resolver nossa historia juntos.
Precisamos questionar o passado, desmistificar o futuro, enfrentar os apegos e as expectativas que se ocultam atrás de nossa falta de consciência e de nosso medo da solidão.
Podemos iluminar nossas sombras. Podemos resistir às ilusões e falsas promessas do mundo. Podemos flutuar, voar e exercer um amor que nunca foi visto antes, pois a luz que fez com que nos encontrássemos no centro dos eixos do espaço e do tempo tinha um plano, um projeto divino. Nada é em vão, nada é por acaso.
Creio que merecemos nos dar uma chance. Estou certo de que merecemos isso. Sempre merecemos uma chance, mesmo porque não escolhemos sofrer. Apenas permitimos que o peso do passado, o peso do futuro, a cobrança da vida, os desafios a serem enfrentados se transformem em sofrimento.
Podemos nos dar uma chance de entender nosso projeto, de entender nosso próprio movimento, nosso íntimo. Tivemos nesse fluir de energia uma boa escola, um grande recurso para entender o eixo do tempo e as sombras que daí derivaram em nossas vidas. Temos agora que trabalhar isso. Cada um a seu modo, cada um criando seu próprio território, cada um vivendo a dor de exorcizar seus fantasmas.
Estamos limpando o espelho, estamos limpando os olhos e o olhar, e poderemos novamente olhar um no espelho que é o outro, olhar nos olhos e passar apenas luz e ternura, pois nós enfrentamos a sombra, assustamos o medo, conquistamos nosso espaço e temos muita força juntos. Temos o poder de enfrentar o sonho do planeta e sobreviver e ficarmos alegres com isso tudo.
Podemos sempre olhar nos olhos da pessoa amada e rir disso tudo.



Valdenir Benedetti

sábado, 3 de janeiro de 2009

AS REVELAÇÕES DE LILITH





A Lilith (ou Lua Negra) - ponto astronômico correspondente ao grau do apogeu (ponto orbital mais afastado em relação à Terra) da órbita lunar projetado na eclíptica zodiacal - vem despertando uma crescente curiosidade entre os profissionais e estudantes da astrologia. O interesse por esse símbolo e suas eventuais interpretações astrológicas tem relação com os movimentos contemporâneos de libertação feminina, bem como com as propostas de uma maior elaboração psicológica da interação masculino-feminino no indivíduo, com o processo terapêutico. Os estudos que têm sido realizados por diversos astrólogos mostram a pertinência e a coerência entre o ponto onde a Lilith se localiza no mapa natal e a manifestação cada vez mais evidente nas pessoas dos significados desse símbolo.

O modelo de feminino permitido ao ser humano pelo padrão ético judaico-cristão baseia-se no mito de Eva, a mulher feita a partir de um fragmento do "primeiro ego": Adão. Vários textos históricos (entre eles, os relatos da Torah assírio-babilônica e hebraica, a versão jeovística para o Gênesis, o comentário bíblico do Beresit-Rabba e as versões aramaica e hebraica do Alfabeto de Ben Sirá (Séc. VI ou VII)), no entanto, citam com variantes a criação de Lilith, a primeira mulher, feita em igualdade de condições com o primeiro homem e expulsa do Paraíso por tentar fazer valer essa identidade.

Adão e Eva são apenas interpretações simbólicas de leis e princípios arquetípicos, correspondendo Adão ao princípio masculino essencial (yang) e Eva à essência do feminino (yin). Além disso, sob o ponto de vista dos alquimistas, é através da união das polaridades (Sol e Lua, yang-yin) que se obtém o "ouro dos filósofos", ou seja, conquista-se a plenitude, o estado divino no homem. A partir desses pontos de vista, pode-se concluir que talvez seja bastante difícil elaborar nossa plenitude ou individuação baseados em princípios simbólicos aparentemente distorcidos, isto é, o masculino (Adão) e o feminino (Eva) manifestando-se em níveis diferenciados.

Acreditamos que essas distorções na interpretação dos mitos satisfaçam algumas conveniências estruturais de nossa sociedade, particularmente a discutível superioridade do homem sobre a mulher. Mas observado sob um prisma astrológico, esse desnivelamento não existe e sua verdadeira função intrínseca seria manter o ser humano afastado de sua outra metade, seu lado yin (ou inconsciente).

Assim, divididos em duas naturezas que não podem harmonizar-se - pois uma delas está simbolicamente em condição de inferioridade - nos tornamos seres frágeis, parciais, facilmente manipuláveis por qualquer sistema de valores. Estamos muito distantes de nossa natureza divina, de provarmos o fruto proibido da polaridade (traduzida por bem-mal) que nos daria acesso ao princípio simbólico de termos sido feitos à Sua imagem e semelhança.

É evidente que uma "mulher" que representasse a possível igualdade de condições com a natureza masculina teria de ser omitida, ou melhor, transformada no símbolo do mal, do pecado, da perdição (mãe de demônios, súcubos, da tentação, do pecado). Mas não é possível, por mais que se pretenda, enganar os mecanismos restauradores da harmonia divina, os quais a própria mãe natureza se encarrega de manter ativos. É a verdadeira evolução das espécies, promovida pela própria natureza em todos os planos da existência, inclusive no espiritual.

Os conteúdos psíquicos simbolizados pela Lilith são muitas vezes interpretados como a raiz da libido. Outras vezes são percebidos como geradores de poderes paranormais, inclinação para a bruxaria, mediunidade, etc. De qualquer forma, tudo o que se diga sobre a Lilith pode ser tão falso quanto verdadeiro, pois não passa de conjeturas - mesmo que baseadas em observação empírica - sobre uma potencialidade simbólica e ainda inconsciente.

Partindo de diversos estudos realizados - particularmente por astrólogos franceses e, no Brasil, pelo professor Zeferino Pina Costa, astrólogo conhecido pela seriedade e profundidade de suas pesquisas - além da contribuição de observações, palpites, opiniões e intuições de diversos astrólogos e estudantes que se interessam pelo tema, tentaremos compor um painel inicial das possibilidades interpretativas desse símbolo no mapa astrológico.

As observações que se fizerem a respeito da Lilith no próprio horóscopo devem necessariamente levar em consideração todas as outras configurações planetárias. É importante não tratar com leviandade elementos simbólicos de conteúdos psíquicos profundos, procurando, dentro do possível, traduzi-los e compreendê-los dentro da dinâmica existencial representada pela totalidade do mapa natal.

De acordo com as diversas fontes citadas, a Lilith poderia corresponder na carta astrológica aos seguintes elementos:

1) Ponto de frustração - A Casa ou signo onde ela se encontra corresponderia à área de experiência (Casa) ou qualidade arquetípica (signo) em relação às quais o indivíduo viveria com um sentimento inexplicável e constante de expectativa e insatisfação, mesmo que a experiência simbolizada por aquela Casa ou signo esteja sendo realizada satisfatoriamente.

2) Fator de inversão - As experiências representadas pelo signo ou Casa poderiam acontecer de maneira inversa ao esperado, reforçando a frustração e a insatisfação quanto àquela experiência.

3) Canal de contato com outras dimensões - Diferentemente de Netuno, que representa o canal de acesso ao inconsciente coletivo, a Lilith representaria um ponto de acesso ao "inconsciente do inconsciente coletivo". Pode simbolizar também qualidades mediúnicas poderosas.

4) Mecanismo de evasão ou recepção de energia vital - Pela manifestação da Lilith através da configuração astrológica da qual participa (Casa, signo, aspectos, etc.) o indivíduo pode liberar sem intenção grande quantidade de energia vital, esvaindo-se, muitas vezes, completamente. Da mesma forma, ele pode absorver essa mesma vitalidade de outras pessoas.

5) Ponto de acumulação das energias não utilizadas - A experiência existencial e os princípios astrológicos dizem que a natureza sempre oferece oportunidades e ferramentas para que o indivíduo se realize e cumpra seu projeto. Quando ele não aproveita essas oportunidades por qualquer motivo, a energia disponível e não usada se transforma em uma espécie de lastro, o qual se incorpora ao sujeito, incomodando e atrasando sua realização. É mais um fator frustrante, é tudo aquilo que deixamos de fazer e que deveríamos ter feito.

6) Conteúdos infantis não elaborados - A Lua representa no mapa natal os conteúdos primários instintivos, inclusive a experiência existencial da infância. A Lua Negra representaria as experiências infantis não vividas, possibilitando manifestações e reações bastante infantis na área onde ela se encontra - geralmente de forma compulsiva e exagerada.

7) Ponto de carisma - As configurações das quais a Lilith participa no mapa são muitas vezes caracterizadas por um forte magnetismo ou carisma, especialmente quando o indivíduo atua harmonicamente nas questões envolvidas. Talvez esse fenômeno esteja relacionado com um tipo de acesso à libido.

Existem inúmeras outras conjeturas relativas ao papel astrológico da Lilith, mas as citadas anteriormente são as mais facilmente observáveis no cotidiano de cada um de nós. São meros pontos de partida para um estudo mais aprofundado, para novas descobertas. A questão está aberta a quem estiver disposto a encará-la.

Referências ao modelo cármico, também atribuídas à Lilith por alguns estudiosos, exigiriam um trabalho mais extenso e especializado, além de serem pouco funcionais, estacionando na maioria das vezes no campo da especulação metafísica.


Damos a seguir algumas sugestões de interpretação desse símbolo em termos de signo e casa (a posição por casa é, em geral, mais facilmente observável).

Áries ou na Casa I - Pessoa em geral brilhante e carismática. Comportamento excêntrico, sem grande compromisso com regras ou padrões morais e sociais. Necessidade compulsiva de conquistar. Reação infantil saliente diante de desejos não realizados. Sentimento freqüente de insatisfação consigo mesmo, com a própria vida, o que pode levar o indivíduo a lutar muito para superar essa sensação e, geralmente, a conquistar posições relevantes em seu grupo social. Tende a reagir agressiva ou obsessivamente diante da eventual necessidade de assumir papéis paternos.

Touro ou na Casa II - As questões de valor são tratadas com relativa obsessão. Independentemente de estar em boa situação financeira, por exemplo, o indivíduo age como se precisasse de mais, muito mais. Está tão insatisfeito com o que possui, que muitas vezes não percebe seus próprios talentos ou qualidades notáveis. Quer o que não tem e tem o que não quer. Acumula coisas em excesso e se desfaz delas compulsivamente, renegando-as, de certa forma.

Gêmeos ou na Casa III - Avidez insaciável por conhecimento e informação (pode, por outro lado, rejeitar as informações, não lendo jornais, por exemplo). Eloqüência e agilidade mental. Tendência a falar sobre coisas acerca das quais preferiria ter-se calado, a iniciar cursos que não pretende concluir e a adquirir livros que não pretende ler.

Câncer ou na Casa IV - Tendência a viver insatisfeito com a família, com a história pessoal, a educação e a formação que recebeu. É geralmente rigoroso e exigente no processo de formação de um lar, mas acaba concretizando algo que não corresponde às suas expectativas. Muitas vezes vive de casa em casa, de convivência em convivência, tentando realizar algum ideal oculto de vida familiar. Inclina-se a atribuir muitas de suas frustrações e derrotas circunstanciais aos seus pais ou familiares. Vida interior bastante intensa, com relativa facilidade de acesso à sua realidade mais profunda. Devoção apaixonada pelas crianças, acompanhada de impaciência e dificuldade em aceitá-las como realmente são.

Leão ou na Casa V - Pode manifestar-se sob forma de dramaticidade ou necessidade compulsiva de impor sua vontade sobre os demais. Pode também corresponder a uma grande dificuldade em sentir-se identificado com o que realmente é. Notável criatividade física e mental, acompanhada por um sentimento de insatisfação, o que faz com que o indivíduo se empenhe mais e mais em atividades criativas (ou em fazer filhos, simplesmente). Possibilidade de bloqueios nos mecanismos de prazer, desencadeando uma busca exaustiva ou então uma fuga de qualquer situação representativa da sensação de prazer.

Virgem ou na Casa VI - A questão atingida é o trabalho e o método. Insatisfação com sua atividade cotidiana, mesmo quando essa lhe for adequada. Comportamento evasivo ou infantil no ambiente de trabalho. Geralmente muito preocupado com a saúde, procurando todo tipo de terapia ou tratamento de que ouve falar, mesmo sabendo que não precisa (- é só precaução - afirma). Rigor lógico e formal em suas atividades. É comum não gostar daquilo que faz e não fazer aquilo que gosta.

Libra ou na Casa VII - É possível uma tendência a projetar suas frustrações e insatisfações nos associados em geral. Em uma relação afetiva, por exemplo, pode acontecer de, cada vez que o companheiro exibir sua satisfação e bem-estar, o indivíduo dar um jeito de bloquear e frustrar a alegria do outro. Pode desejar alguém inatingível, mas, se esse alguém tornar-se possível, descobrirá que não era bem isso que desejava. São pessoas que exigem muita paciência e compreensão de quem convive com elas. São suscetíveis, magoam-se facilmente e fazem questão de demonstrá-lo. Também podem ser infantis no seu convívio. Possuem fascínio pelo lado oculto das coisas, o que pode conduzi-las ao estudo das ciências herméticas ou a relacionamentos com místicos, mágicos, gurus e até mesmo charlatães.

Escorpião ou na Casa VIII - Confere uma atração excepcional pelo ocultismo, particularmente pela magia, xamanismo, feitiçaria, enfim, pelas práticas, que se relacionam com mecanismos de poder ou de acesso a outros planos da existência. A pessoa tem uma razoável disponibilidade de poderes curativos e regeneradores. Insatisfação com a condição material em que vive, com inclinação a tornar-se financeiramente dependente do companheiro. A necessidade de algum tipo de poder pode ser obsessiva e causar um comportamento tirânico ou até mesmo cruel com relação ao parceiro. Provável fascínio ou temor pela idéia da morte, física ou simbólica, o que pode levá-la a procurar conhecê-la pelo estudo da medicina ou do espiritismo.

Sagitário ou na Casa IX - As eventuais dificuldades sugeridas pela presença da Lilith nessa área referem-se principalmente às viagens ao Exterior e aos estudos superiores, sendo até mesmo possível que o indivíduo veja frustradas suas expectativas de fazer uma grande viagem ou concluir um curso universitário. Mas o conhecimento obtido por caminhos informais é freqüente e as viagens incomuns (astrais, por efeito de drogas, etc.) podem compensar seu ideal de expansão. Existe uma forte inclinação para a busca filosófica sem fim. Por outro lado, essa posição da Lilith favorece o acesso a um significativo conhecimento das misteriosas leis que regem a vida, a natureza.

Capricórnio ou na Casa X - Se, por um lado, pode haver uma expectativa frustrada de prestígio e status social, por outro, o indivíduo tende a empenhar-se com o maior afinco para realizar esse tipo de ideal. É comum essa posição da Lilith determinar uma disposição para sustentar uma imagem muito elaborada para o mundo e outra completamente diferente na intimidade. Uma grande quantidade de energia é investida na manutenção dessas duas personalidades. Essas pessoas tendem a ser pais ou mães possessivos e controladores, mesmo que ajam com delicadeza e muito boas intenções. Não permitem intromissão em suas relações íntimas ou familiares (um mundo secreto) - em alguns casos por se envergonharem de seu passado ou de seu presente familiar.

Aquário ou na Casa XI - Esses indivíduos tendem a mudar de grupo social com bastante freqüência. Sentem-se incompreendidos ou magoados por qualquer contrariedade advinda de seus amigos. São em geral críticos cáusticos dos mecanismos sociais de seu tempo. Preferem elaborar e alimentar a esperança de reequilibrar a sociedade a partir de um modelo pessoal. Podem ser idealistas românticos ou até mesmo rebeldes sem causa. Possuem grande perspicácia política e são compelidos interiormente a agir em benefício de seus semelhantes. Muitas vezes acabam mais atrapalhando do que melhorando a situação, pois podem apoiar-se em alguma inadequação interior ao interferir em algum processo. A amizade das crianças merece a sua mais verdadeira confiança, coisa difícil de acontecer com os adultos.

Peixes ou na Casa XII - Buscam o mágico e o místico em todas as coisas e nunca estão satisfeitos com suas conquistas no plano espiritual. Alguns indivíduos com a Lilith nessa posição negam e renegam qualquer realidade mística, comportando-se de maneira obsessivamente racionalista. Alguns possuem inclinação hipocondríaca. São em geral bastante talentosos. O medo de expor-se e de ferir-se, ou uma forte inclinação para fazer-se de vítima, poderá levá-los a perder grandes oportunidades de realizar seus sonhos.
Valdenir Benedetti
(Texto publicado na revista "Astrologia Hoje" e no livro "Manual de Astrologia Essêncial" - Ed. Ground)